Nossa avaliação - 8.5 |
Faz seis meses
que a Renata me deu de presente de aniversário “A Ilha Sob o Mar” da Isabel
Allende, publicado pela Bertrand Brasil, mas só agora consegui finalmente ler
esta grande obra. Já tinha topado com a obra em várias livrarias e a capa
sempre me atraiu; essa menina negra de cabelos cacheados com borboletas e
libélulas. Não sei por que eu me identifiquei, talvez pela cor da pele, talvez
pelo cabelo... O fato é que Zarité, conhecida como Tété, me encantou com
sua história de vida ao mergulhar nas 476 páginas que descrevem a escravidão da
minha raça, a luta pela independência de uma nação livre da escravidão e o amor
pelos filhos e pela liberdade.
Começando no
Haiti, ou melhor em Saint-Domingue como era chamada a ilha no século XVIII, a
história começa na colônia francesa onde as plantações de cana-de-açúcar valiam
ouro e os escravos eram os “bichos” que produziam o refinado açúcar que ia
parar nas mesas europeias. Aqui Tété foi comprada para trabalhar na casa Toulouse
Valmorian, dono de uma das plantações mais prósperas e, claro, acabou em sua
cama, afinal era propriedade de um branco e ele poderia fazer o que quisesse com
ela. Bonita e sensual, Tété atraiu vários olhares, mas sempre foi vista apenas
como a escrava que cuidava da casa, dos filhos do patrão e que às vezes
conseguia ajudar os de sua cor e dançar ao som dos tambores, que era o que mais
gostava.
Viajamos em uma
narrativa que vai da revolta dos negros, que cansados dos maus-tratos dos seus
donos até a independência de uma nação que depois de várias guerras contra os
franceses, os brancos e até entre os próprios negros, se tornou o Haiti que é
hoje.
Apesar de tudo,
as palavras de Allende, através de Tété, nos trazem à realidade:
“Muitos anos se
passaram e continua correndo o sangue que encharca a terra do Haiti, mas eu não
estou mas lá para chorar.”
Fazemos uma pequena
parada em Cuba até chegarmos no nosso destino final... Nova Orleans, onde presenciamos o preconceito
e a injustiça, mesmo constando na Declaração da Independência que a escravidão
é proibida. Mas alguns irão lutar contra essa opressão e talvez os resultados
demorem a ser percebidos, mas liberdade virá, contra a vontade de alguns, como
o desejo do coração de outros, mas virá.
Em uma mistura
de cores, sabores e religião, Allende ainda tenta harmonizar a influência do
vodu dos escravos de Nova Orleans com o loas
dos escravos de Saint-Domingue com o deus cristão dos brancos:
“Meu Deus é o mesmo Papa Bondye seu, mas com outro nome. Seus
loas são os meus santos. No coração humano há
espaço para todas as divindades.”
Como não lembrar
de “A
Vida de Pi”?
São muitos
personagens, muitas histórias que se entrelaçam, mesmo sem percebermos a relevância
entre elas, mas que ao final nos levam ao grand finale. Não, não há um final
feliz, já adianto, mas acho que estes é que são os melhores livros, os mais
verossímeis com a nossa realidade, os que nos mostram que, infelizmente, nem
tudo são contos de fadas: há dor, há tristeza, há sofrimento, mas também há
esperança.
“- E a cor? Em ligar nenhum vão aceitar vocês. Dizem que os
Estados são livres, mas o ódio é pior, porque brancos e negros não convivem nem
se misturam.
- Certo, mas isso vai mudar, eu prometo. Há muitas pessoas
trabalhando para abolir a escravidão...
- Não viverei para ver, Maurice. Mas sei que, mesmo emancipando
os escravos, não haverá igualdade.
- Com o tempo vai haver, maman. É como
uma bola de neve, que começa a rolar, vai crescendo, ganha velocidade e, então,
nada pode detê-la. Assim, acontecem as grandes mudanças na história.”
Sem dúvida, o melhor livro de Allende que li... Até agora.
Ai, quero ler!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirAcabei de ler e é realmente magnífico. Foi o primeiro livro de Allende que eu li e agora quero ler todos os outros.
ResponderExcluirBeijos
Que bom q vc gostou Claudia.
ExcluirConfesso que achei melhor do que A Casa dos Espíritos
Leia o do Zorro, tb é bom!
Bjs!