sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O melhor de Allende, até agora (Carla Cristina Ferreira)


Nossa avaliação - 8.5
Faz seis meses que a Renata me deu de presente de aniversário “A Ilha Sob o Mar” da Isabel Allende, publicado pela Bertrand Brasil, mas só agora consegui finalmente ler esta grande obra. Já tinha topado com a obra em várias livrarias e a capa sempre me atraiu; essa menina negra de cabelos cacheados com borboletas e libélulas. Não sei por que eu me identifiquei, talvez pela cor da pele, talvez pelo cabelo... O fato é que Zarité, conhecida como Tété, me encantou com sua história de vida ao mergulhar nas 476 páginas que descrevem a escravidão da minha raça, a luta pela independência de uma nação livre da escravidão e o amor pelos filhos e pela liberdade.

Começando no Haiti, ou melhor em Saint-Domingue como era chamada a ilha no século XVIII, a história começa na colônia francesa onde as plantações de cana-de-açúcar valiam ouro e os escravos eram os “bichos” que produziam o refinado açúcar que ia parar nas mesas europeias. Aqui Tété foi comprada para trabalhar na casa Toulouse Valmorian, dono de uma das plantações mais prósperas e, claro, acabou em sua cama, afinal era propriedade de um branco e ele poderia fazer o que quisesse com ela. Bonita e sensual, Tété atraiu vários olhares, mas sempre foi vista apenas como a escrava que cuidava da casa, dos filhos do patrão e que às vezes conseguia ajudar os de sua cor e dançar ao som dos tambores, que era o que mais gostava.

Viajamos em uma narrativa que vai da revolta dos negros, que cansados dos maus-tratos dos seus donos até a independência de uma nação que depois de várias guerras contra os franceses, os brancos e até entre os próprios negros, se tornou o Haiti que é hoje.

Apesar de tudo, as palavras de Allende, através de Tété, nos trazem à realidade:

 “Muitos anos se passaram e continua correndo o sangue que encharca a terra do Haiti, mas eu não estou mas lá para chorar.”

Fazemos uma pequena parada em Cuba até chegarmos no nosso destino final...  Nova Orleans, onde presenciamos o preconceito e a injustiça, mesmo constando na Declaração da Independência que a escravidão é proibida. Mas alguns irão lutar contra essa opressão e talvez os resultados demorem a ser percebidos, mas liberdade virá, contra a vontade de alguns, como o desejo do coração de outros, mas virá.

Em uma mistura de cores, sabores e religião, Allende ainda tenta harmonizar a influência do vodu dos escravos de Nova Orleans com o loas dos escravos de Saint-Domingue com o deus cristão dos brancos:

“Meu Deus é o mesmo Papa Bondye seu, mas com outro nome. Seus loas são os meus santos. No coração humano há espaço para todas as divindades.”

Como não lembrar de “A Vida de Pi”?

São muitos personagens, muitas histórias que se entrelaçam, mesmo sem percebermos a relevância entre elas, mas que ao final nos levam ao grand finale. Não, não há um final feliz, já adianto, mas acho que estes é que são os melhores livros, os mais verossímeis com a nossa realidade, os que nos mostram que, infelizmente, nem tudo são contos de fadas: há dor, há tristeza, há sofrimento, mas também há esperança.

“- E a cor? Em ligar nenhum vão aceitar vocês. Dizem que os Estados são livres, mas o ódio é pior, porque brancos e negros não convivem nem se misturam.
- Certo, mas isso vai mudar, eu prometo. Há muitas pessoas trabalhando para abolir a escravidão...
- Não viverei para ver, Maurice. Mas sei que, mesmo emancipando os escravos, não haverá igualdade.
- Com o tempo vai haver, maman. É como uma bola de neve, que começa a rolar, vai crescendo, ganha velocidade e, então, nada pode detê-la. Assim, acontecem as grandes mudanças na história.”


Sem dúvida, o melhor livro de Allende que li... Até agora.


3 comentários:

  1. Acabei de ler e é realmente magnífico. Foi o primeiro livro de Allende que eu li e agora quero ler todos os outros.

    Beijos

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    Respostas
    1. Que bom q vc gostou Claudia.
      Confesso que achei melhor do que A Casa dos Espíritos
      Leia o do Zorro, tb é bom!
      Bjs!

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