quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Parecidos, mas diferentes (Renata Lima)


Há algum tempo, comecei a acessar vlogs literários em busca de indicações de leitura porque sentia que estava lendo muito mais do mesmo. Me deparei então com essas três coisas fofas que são Clara, Raphael e Bob (ah, o Bob...) e, através deles e do despretensioso e descolado Capitu já Leu, descobri um mundo de leitura, um mundo de vlogs ultra interessantes e fiz novos amigos leitores que hoje já moram no meu coração (Não vou citar ninguém porque vai que eu esqueço um nome? São tantos os queridos Sensuais - longa história!).

O fato é que o Raphael e a Clara estão sempre citando Amós Oz e fiquei morrendo de vontade de conhecer um pouco do trabalho do autor, mas o Raphael me indicou começar pelo "Panteras no Porão", mas, sem grana até pra comprar do sebo, eu esperei, esperei, esperei, até que de repente vi uma promoção de "De repente nas Profundezas do Bosque" a R$3,75 e não resisti, comprei o livro. Quando fui perguntar pro Raphael se ele já tinha lido, ele me respondeu que era uma fábula e que eu ia gostar bastante. E foi aí que minha jornada teve início.


Para quem não conhece nada de Amós Oz, como eu não conhecia, segue uma minibiografia: ele é israelense, tem 74 anos, e é  co-fundador do movimento pacifista Paz Agora (Shalom Akhshav), cujo propósito declarado é alcançar a paz interna e externa para Israel.

Seus livros de ficção mais famosos são "Uma Certa Paz" - de 1982, "Panteras no Porão" - de 1995, e "De Amor e Trevas" - de 2003 - que muito consideram mais uma autobiografia do que um romance propriamente dito. O livro de hoje, "De repente nas Profundezas do Bosque" foi escrito em 2005 e publicado no Brasil em 2007 pela Companhia das Letras.

Nossa Avaliação - 8.5
"De repente nas Profundezas do Bosque" realmente é uma fábula, mas não é um livro infantil, assim como não o é "O Oceano no Fim do Caminho" de Neil Gaiman. É um livro sobre como somos influenciados pelo que ouvimos e como, quando crianças, estamos dispostos a desafiar os limites impostos e questionar as verdades absolutas.

Todos os animais desapareceram do bosque depois de uma tempestade, insetos, minhocas, peixes, moscas, não há um só bicho na aldeia. Alguns afirmam que viram Nehi, o demônio, levando consigo uma fila de sombras nas formas de carneiros, tigres, jumentos, vacas, aves e até cães e gatos. Porém muitos anos se passaram e as crianças se perguntam se um dia aquelas criaturas existiram ou se são apenas lendas, como o próprio demônio, usadas de forma a assustar as crianças, proibi-las de entrar no bosque e gerar medo, e consequentemente obediência (como o Bicho Papão e o Homem do Saco).

Um dia, Nimi, um menino que sofre bullying na escola, entra no bosque e desaparece. Dias depois, quando volta, Nimi não sabe mais falar, só relinchar. Expulso pelos pais, que temem ser contaminados pela "doença do relincho",e hostilizando pelos colegas, ele passa a vagar pela cidade dia e noite.
Todo aquele que de alguma forma não está disposto a se adaptar e a ser como nós, então é porque adoeceu de relincho, ou de uivo, ou do que quer que seja, e que não se atreva a se aproximar de nós, que guarde distância, por favor, que não nos contamine.
Extremamente curiosos, Maia e Mati, ex-colegas de escola de Nimi, se arriscam a entrar no bosque depois de acharem um peixe vivo no rio. A mãe de Maia é conhecida como "a padeira maluca que espalha todo fim de tarde migalhas de massa no rio que não tem nenhum peixe, ou semeia pedacinhos de pão embaixo das árvores que nem tem pássaros" e Mati é considerado excêntrico porque vive fazendo anotações em cadernetas, mas não deixa ninguém ler, exceto Almon, um pescador que discute com as paredes.
Não havia ali em toda a aldeia alguém que ensinasse as crianças que a realidade não apenas o que o olho vê e não somente o que o ouvido escuta e o que a mão pode tocar, mas também o que se esconde do olho e do toque dos dedos e se revela às vezes, só por um momento, para quem procura com os olhos do espírito e para quem sabe ficar atento e ouvir com os ouvidos da alma e tocar com os dedos do pensamento.
Com a sensibilidade que só as crianças têm, Maia e Mati descobrem a verdade sobre Nimi, sobre o desaparecimento dos animais, sobre o Nehi, o demônio, e descobrem o que o medo que os adultos têm do diferente, do novo, do desconhecido pode fazer aos seres (sejam eles humanos ou animais).

Como eu disse antes, é parecido com "O Oceano no Fim do Caminho" do Neil Gaiman, escrito com uma clareza e com uma sensibilidade que poucos autores têm. Mas apesar de entender e de concordar em alguns aspectos, eu gostaria que o final fosse um pouco diferente, mas dentro do contexto do livro fez sentido!

Eu poderia falar sobre a escrita do autor, sobre a fluência do texto, sobre as frases absolutamente fantásticas que li no livro, mas eu prefiro só dizer que fiquei encantada com Amós Oz e estou louca para ler outros livros dele! Para mim foi uma experiência de ampliação de horizontes, de descoberta de novas vozes e por isso foi muito especial, tão especial que eu nem sei se essa resenha ficou clara o bastante.

As metáforas presentes no livro se aplicam a quase tudo no mundo atual, a tudo que é diferente e pode ser visto como prejudicial, danoso, estranho, e como esse diferente pode e deve ser questionado antes que acatemos a decisão da maioria de que aquilo não presta e, portanto, não deve ser comentado, debatido, avaliado e consequentemente abraçado ou descartado não como um senso comum, mas como seres individuais que somos.

Há reflexões muito mais profundas que me vieram em diferentes partes do livro, mas sobre elas eu prefiro não comentar para não influenciar a leitura de ninguém.

Como eu disse antes, eu peguei o livro em promoção na Amazon, mas depois disso nunca mais vi o livro digital a menos de R$23,00. Vale a pena conferir no Estante Virtual porque a minha edição impressa eu adquiri por lá a R$3,00, mas nessa época de Natal, sabem como é, ainda não recebi o livro.

E você, já leu algum livro desse autor ou tem algum autor/livro que deixou você tão encantado quanto esse me deixou? Deixem nos comentários!


10 comentários:

  1. Adorei sua resenha, Re!
    E sim, vc passou muito e muito bem!!! Vamos seguindo lendo mais Amós Oz, pq tb me apaixonei por ele devido ao amor da Clara e do Rapha!! ;o)

    Xerinhos

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    1. Owwww, uma das minhas sensuais favoritas falando isso até me comove!
      Estou louca pra pegar outros livros dele, mas como vc sabe, amiga, a lista de leituras só cresce!
      Obrigada pelo carinho!!!
      Bjs enormes.

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  2. Oi Re !!
    Você se fez entender perfeitamente na resenha, aliás adoro textos escritos com certa de paixão, porque normalmente ela contagia. Contagia tanto, que agora quero ler Amós Oz por causa dessa resenha :)
    bjos

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    1. Olha, mais uma Sensual me fazendo feliz!!! Olha, Melissa, eu sou suspeita pq eu conheço gente que não gostou do livro, mas juro, me deixou feliz demais de ter lido, me fez refletir sobre váaaarias coisas e acho que vale a pena!
      Beijo grande e depois me diz se gostou!

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  3. Re,
    Eu já tinha me interessado pelo livro quando assisti ao vídeo do Capitu. Consegui o livro em uma troca e nem tinha me tocado que é uma fábula. Vou encaixá-lo em um desafio do ano que vem que tem esse tema! Muito obrigada por me lembrar do livro e por reacender minha vontade de lê-lo!
    bjo

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    1. Depois me diz se você curtiu, Mi!!!
      Eu já li algumas indicações ótimas dos Sensuais. Amós Oz e Neil Gaiman, por exemplo!
      Beijocas

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  4. Renata, que lindo! Ainda não conheço o Oz, tenho aqui "E a história começa", mas não li e morro de vontade de ler o "Contra o fanatismo", mas não tinha nenhuma indicação de por onde começar com a ficção. Adorei essa história da fábula, acho que a história ganha uma dimensão muito poderosa, porque precisa ser simples e singela, embora muitas vezes profunda e complexa. Enfim, morta de vontade de ler o homem!
    beijo grande,
    Maira

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