quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Viver sofrendo é opcional (Renata Lima)


Carla e eu lemos tanta coisa que conforme as leituras vão passando fica complicado dizer quais livros se destacam. Mas das minhas últimas leituras, não posso deixar de destacar um livro que me foi indicado pelo meu amigo Arthur. É um livro triste, pesado, reflexivo e absolutamente fenomenal que questiona quem somos, o que somos e qual é o nosso papel no mundo. Que marcas deixaremos quando formos embora, que mundo deixaremos para trás.

Vivemos como robôs, seguindo rotinas diárias, achando que fazemos alguma diferença para algumas pessoas e nenhuma diferença para outros, quando na verdade somos apenas pretensiosos grãos de areia num universo enorme e que está sempre mudando.

Nossa Avaliação - 9,0
Em "Precisamos falar sobre o Kevin", Lionel Shriver conta a história de Kevin Khatchadourian, um jovem de 16 anos que assassinou nove pessoas (sete colegas, uma professora e um servente) em um colégio em Nova York. 

Através de cartas que a mãe do jovem escreve para o marido ausente, o autor faz uma espécie de "investigação" em busca dos motivos para o crime e, como diz bem na sinopse "constrói uma reflexão sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro." 

O interessante nesse livro é que ele não enfoca as vítimas de Kevin, mas a criação de um menino já odiado antes mesmo de nascer. Kevin teve sua humanidade dilacerada aos poucos desde bebê pela mãe, perante à ausência e ignorância (no sentido de não saber de nada do que acontecia dentro de casa) do pai.

Os indícios de que Kevin se tornaria um psicopata estavam todos lá, mas a mãe, cega em seu ódio, em sua inadequação, remoendo os próprios fracassos, a perda de uma vida que ela nunca teve, se remoendo de inveja da vida dos outros, ignorou todos os sinais, todos os pedidos de ajuda de uma criança (e posteriormente um jovem) que nunca teve a oportunidade de ser tratado e salvo de si mesmo.

Quando terminei de ler o livro, fiquei me perguntando se o que faltou a Kevin também faltou à mãe dele. Amor, aceitação, cuidado. Filhos não planejados podem trazer complicações, famílias não planejadas podem trazer complicações, mas quando há amor, quando há compreensão e aceitação, a falta de plano pode ser contornada e a vida pode ser levada adiante sem que esse fato traga dor e deixe feridas incuráveis. 

Perante as adversidades, às vezes é necessário dizer "e daí?" e descobrir novos caminhos, fazer novas escolhas, redesenhar a vida e não ficar sentando lamentando o tempo todo, se entregar à adversidade e se autoproclamar um derrotado, uma vítima do destino. Quem já teve uma doença difícil, quem já teve uma perda significativa, quem já passou um momento complicado sabe disso.

Viver sofrendo é uma opção.

O filme, com a maravilhosa Tilda Swinton como a mãe de Kevin, já está passando no Telecine Premium e tem exibição marcada para hoje às 18h20. Ainda não assisti.

8 comentários:

  1. Esse post foi muito diferente dos outros.
    Lidar, ou melhor, cuidar e criar um ser humano é algo profundo e a dedicação é fundamental.
    Acho que vou parar de ler esse blog, pois a lista de leitura está ficando muito grande.
    Mais um para a listona!!!
    E ainda tem a indicação dos filmes referentes aos livros. Ai Meu Deus, socorro !!!!!!!!!!!!!

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    1. Aline, eu vi o filme hoje. É beeeem pesado, no sentido de que o tema é bem pesado.

      Acho que o post foi muito diferente porque o impacto da leitura tb foi. Fiquei de queixo caído com a construção da infância do Kevin e a falta de atitude da mãe quando o filho, ainda criança, mentia e tinha tendências violentas.

      Recomendo mesmo. Me surpreendi demais.

      Bjs

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  2. Renata,Kevin Khatchadourian existiu de verdade? Eu só assiti o filme e não li o livro.
    Gostei do seu blog = )
    Mariana Scalet

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    1. Mari, pelo que ouvi falar Kevin não existiu de verdade, mas outros psicopatas do gênero serviram como exemplo para a criação do personagem. Quantos Kevins não temos por aí, né? Inclusive aqui no Brasil, o rapaz de Realengo, o assassino do shopping de SP, quantos psicopatas soltos pelo mundo, né?

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  3. Engraçado acho que tive uma percepção um pouco diferente... acho que porque li o "Mentes perigosas" da Ana Beatriz B Silva primeiro, que fala sobre o que é um psicopata e como eles estão próximos de nós no dia a dia, é aquela pessoa que nasce mau por um defeito cerebral ou de forma bem simples é uma pessoa que não sente... não tem empatia... dai, acho que o filme deixa isso mais claro, sobre a "obrigação" que uma mãe tem de amar o seu filho ou se esse amor é mesmo incondicional... complexo né, mas o livro é maravilhoso e não consigo entender como o filme passou batido nas premiações e Tilda (espetacular na tristeza tão fria quanto Kevin)não ter sido indicada a nada...

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    1. Pois é, Arthur, eu não acredito muito nessa teoria da maldade, de que as pessoas nascem más. É claro que por uma deficiência, a pessoa pode nascer sem empatia e tal. Mas acho que o papel da mãe é essencial nessa percepção. No caso do livro, Kevin demonstrava "sintomas" que a mãe via e não interpretava porque já tinha ódio do próprio filho.

      Eu acho que não foi indicado a nada porque os EUA não querem falar sobre esse assunto. É meio que um tabu, tipo "se a gente não falar sobre isso, uma hora vai para de acontecer". E focam somente no bullying e no terrorismo externo.

      Bjs

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  4. Ah Renata é porque se vc ler o Livro da Ana beatriz... é um tanto assustador a explicação cientifica mesmo... mas nem é sobre isso meu foco ou o que eu entendi sobre a necessidade de amar ou de onde vem esse amor incondicional, tipo ok saiu de mim agora eu defendo e passo por cima de tudo...

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