sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O poder devastador da traição! (Renata Lima)


Já dizia Carlos Drummond de Andrade: "No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam". E o adultério - e outras cositas más - é o tema principal desse livro da Claudia Piñeiro, escritora argentina de 54 anos, publicado aqui no Brasil pela Verus Editora nesse ano de 2015.

Nossa Avaliação - 8.5
Em "Tua", Inés é uma mulher dedicada ao marido que tem um relacionamento difícil com a filha adolescente. Sempre criticando a filha, o que me irritou bastante, Inés é a típica mulher que abandonou seus sonhos em busca de uma estabilidade familiar e, depois de tantos anos vivendo à sombra do marido, ela começa a questionar o casamento, as viagens do marido, os constantes atrasos depois do trabalho. 

Inés justifica as ausências do marido garantindo que depois de tantos anos de casada, o tesão acabou - para ele pelo menos - e está certa de que Ernesto apenas trabalha demais. Porém depois de muita conjectura, Inés encontra um bilhete endereçado ao marido. No pedaço de papel há apenas um coração desenhado de batom, a frase “te amo” e uma assinatura: “Tua”. 

Cavando mais a fundo, Inés descobre que o relacionamento de seu marido com "Tua" é quase uma relação estável e uma bela noite, Ernesto recebe um telefonema e diz que tem que voltar ao trabalho para resolver alguns assuntos. Se fazendo de morta, Inés diz que compreende, mas assim que Ernesto sai ela o segue de carro e descobre que "Tua" é ninguém mais do que a secretária do marido, com quem ele tem uma discussão que tem um final surpreendente, testemunhado pela esposa traída.

A partir daí, Inés precisa decidir se ainda quer manter seu casamento e aceitar que o marido é um homem falho, mas que está disposto a mudar, ou fazê-lo sofrer e rastejar de volta para ela como uma mulher traída merece. 

No meio de todo esse drama, temos o desenrolar de um drama - na minha humilde opinião - ainda maior: o drama da filha do casal. Completamente abandonada pelos pais e contando apenas com uma amiga para passar por um momento difícil, a jovem fica ao Deus dará, sofrendo injúrias pelo telefone e tendo que tomar sozinha decisões que poderão mudar todo o seu futuro, Achei essa a parte mais humana do livro, principalmente quando Inés começa a provocar a filha, a quem não parece amar nem um pouco (afinal de contas sua gravidez foi apenas um meio para alcançar o tão esperado casamento com Ernesto).
Poderia ter falado da bagunça de seu quarto ou criticado alguma amiga dela, o que é muito fácil. Mas preferi a certeza e toquei num tema que consegue alterá-la: comida. Disse que estava muito redonda, que ultimamente eu a via comendo muito, que ela não era como eu, que como qualquer coisa e não engordo, que, se continuasse assim, ia virar uma bola, que hoje em dia os meninos rejeitam as gordinhas. Mostrei um regime que tinha marcado para ela em uma revista. Funcionou. Ela jogou a revista na minha direção, gritou “que sacana você é” e se trancou, chorando, no quarto.
O livro, apesar de bem curtinho, (ele tem apenas 140 páginas) tem ótimas reviravoltas que, apesar de não surpreenderem muito, vão delineando o caráter (ou a falta de caráter) dos personagens. Por um momento, senti pena de Inés, mas era só lembrar de como ela tratava a própria filha que essa pena ia embora! O interessante é que não existe muito essa história de mocinhos e bandidos. Todo mundo tem culpa no cartório, todos os personagens têm máculas, o que torna o livro mais verossímil.

Quem tiver a oportunidade de ler, não vai se arrepender!


6 comentários:

  1. Nunca ouvi falar nem da autora e nem do livro, mas achei interessante.
    Porém, fiquei com uma dúvida ela conseguiu desenvolver bem toda essa história que parece bem complexa em 140 páginas? Não sei se me parece suficiente, o que você achou ?

    bjus,
    Dani Moraes
    www.asverdadesqueopinoquioconta.blogspot.com.br

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    1. Dani,
      Eu achei o livro bem desenvolvido. A história não é muito intrincada não, e as coisas já acontecem no começo do livro. Não tem muita enrolação, o que achei ótimo!
      Beijos!

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  2. Adorei a dica, Rê! Li outro livro da autora (Betibú) e gostei muito. Achei uma boa opção também para o mês de junho (casais).
    bjo

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    1. Não sabia que ela tinha outros livros por aqui, Mi! Vou procurar!!!
      beijão!

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  3. Oi, Renata!
    Adorei a resenha! Não conhecia nem a autora e nem o livro.
    Mas já fiquei com raiva das personagens rsrs então não sei se leria o livro...
    Bjos!
    Helena

    http://doslivrosumpouco.wordpress.com

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    1. Helena, eu sempre fico com raiva das personagens kkkk!
      O livro é tão pequenininho, dê uma chance a ele!
      Beijos

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