segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A densa e obscura alma humana em evidência (Renata Lima)


Nossa Avaliação - 9.0
"Nada" é um livro que engana pela capa. O casal abraçadinho pode dar a entender que o livro é um YA um tanto triste, mas não se deixe enganar: "Nada" é um livro profundo, reflexivo com assuntos muito pesados! Não há espaço para romance nessa narrativa!

Agnes é uma menina de apenas 13 anos e narra como os alunos de sua turma e ela mesma estão impressionados com o comportamento de Pierre Anthon, que um belo dia resolveu deixar a aula dizendo que nada importava e que no mundo nada valia a pena. Desse dia em diante, o menino sobe em uma árvore e decide que sua vida vai ser um reflexo do mundo: uma vida de nada.

Ao passarem por ele diariamente, as crianças são brindadas por frases reflexivas sobre como as tarefas do dia a dia não levam a nada e sobre como levamos nossas vidas de forma mecânica, sem nos questionarmos sobre o que estamos fazendo, quem somos, por que precisamos dessas rotinas, por que precisamos passar por todas as fases da vida.

Irritada e contrariada com as constantes afirmações aparentemente sem sentido de Pierre, Agnes resolve juntar os amigos e fazer uma proposta: que tal se eles criassem algo que realmente significasse alguma coisa para provar para Pierre que existem motivos para viver, que o mundo não é vazio. A proposta é montar uma pilha com as coisas que eles mais se importam e guardá-las secretamente em um galpão abandonado.

O que começa como uma ideia brilhante vai aos poucos se transformando em uma competição perigosa onde o significado das coisas não é mais dado pela pessoa que vai depositar seu item no galpão, mas pelos colegas em si. Ou seja, outra pessoa deve escolher o que tem mais significado para você e você é obrigada a depositar aquele objeto na pilha do galpão, querendo ou não.

Ao recolher itens tão valiosos e de forma tão invasiva, os adolescentes não se questionam em momento algum o certo e o errado. Eles só querem provar para Pierre que ele está errado e ponto final, mas nunca questionam as próprias atitudes, o que gera no leitor um sentimento de indignação e, ao mesmo tempo, de pena.

Todos nós um dia nos questionamos sobre a vida que levamos, a profissão que escolhemos seguir, a família na qual nascemos. É normal. O livro traz esses e outros questionamentos de uma forma muito densa e obscura, mas vai além do questionamento: mostra de forma clara e cruel a frieza humana diante da dor e do sofrimento dos outros. Se você não tem o emocional muito forte, não leia esse livro! 

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