sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A insuportável dor da perda (Renata Lima)


"Meu Inverno em Zerolândia" é o primeiro livro escrito pela italiana Paola Predicatori. Publicado aqui pela Suma de Letras, o livro conta a história de Alessandra, uma jovem de 17 anos marcada profundamente pelo sofrimento e pela consequente morte da mãe por câncer.

Nossa Avaliação - 9.0
Desanimada com a vida de forma geral, como todos ficamos em situações como essa, Alessandra precisa retomar seus afazeres, voltar à escola, rever os mesmos amigos de quem se afastou (ou se afastaram dela) quando sua mãe adoeceu. Mas ela está disposta a não ser mais a mesma, a evitar as festas, as frivolidades, os papos inúteis, as amigas fúteis e é então que ela toma uma decisão que mudará sua vida dali em diante: se sentar ao lado do rejeitado, do pobretão, do ignorado Zero, apelido de Gabriel.

Narrado por Alessandra, o livro tem um tom confessional de diário, ao mesmo tempo em que tem um tom epistolar porque muitas vezes Alessandra se dirige a pessoas específicas, à avó, às amigas e amigos distantes, a Gabriel e, na maioria das vezes, à mãe falecida. O luto das memórias passadas quando a mãe ainda estava doente se mistura com o saudosismo dos tempos de infância, com as rejeições da época da adolescência com a incapacidade de se relacionar com outras pessoas fora da Zerolândia (o mundo silencioso de Zero).

Aos poucos, Alessandra e Zero (em determinado ponto apelidados de Zeta e Zero) vão desenvolvendo uma forma peculiar de comunicação, e às vezes de não-comunicação, que passa a funcionar para os dois e uma relação diferente e estranha começa a se desenvolver ao mesmo tempo em que uma das amigas de Alessandra, Sônia, ensaia uma reaproximação no intuito de que Alessandra não incentive as investidas de Giovanni, um dom juan que parece desenvolver sentimentos pela jovem.

A história do livro é bem simples, mas quem já perdeu um ente querido com quem tinha enorme proximidade sabe qual é a sensação: desespero, medo, estranheza, solidão, lembranças que insistem em nos visitar a cada momento. A dor de Alessandra e suas reflexões são poéticas, sinceras, válidas e muito bonitas, como essa sobre a mãe:
"Esteve correndo enquanto dormia?", você me perguntava, e eu me levantava e como um filhote de animal ia em busca do seu corpo, abraçava-o e depois me sentava no seu colo, toda encolhida. Saudade de quando eu ainda não tinha nascido e éramos uma coisa só e você nunca iria embora sem mim.
O livro é realmente apaixonante, apesar de não ser um livro "pra cima". Ele nos leva a passar, junto com Alessandra, por aqueles estágios do luto (negação, raiva, negociação, depressão e aceitação, não necessariamente nessa ordem) e tentar tirar da vida nessa época uma mensagem positiva, tentar ver que pode haver algo de bom mais na frente, que o mundo não pára. 

Assim como algumas pessoas, senti falta de um último capítulo mais elaborado, ou de um epílogo, ou de uma carta final dela para a mãe, mas no geral o livro é muito bom e traz muitas reflexões interessantes!

Mais um pra sua lista, quem sabe?

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