segunda-feira, 3 de junho de 2013

No meio do Maine existe uma redoma (Flavio Bevilacqua)


A maior qualidade dos livros para mim é a capacidade de mergulhar em outros mundos e viver por um tempo esta realidade paralela que ganha cores e movimentos a partir das palavras. No caso dos livros de Stephen King, damos um passo além. O autor foi criando um mundo próprio há mais de quarenta anos e nós, leitores e fãs deste inigualável escritor, temos sempre a sensação de revisitar este mundo a cada leitura. Sabe aquela sensação de voltar a um lugar pela segunda vez e ver que está tudo quase igual como da última vez até se dar conta de um prédio novo aqui, uma reforma na pracinha ali? O mundo de King é isso. 

Da fictícia Castle Rock até Salem’s Lot passando pela Prisão de Shawshank e pela Derry do palhaço Pennywise, conhecemos cemitérios de animais, cidades dominadas por vampiros, a Carrie, o gigante prisioneiro com poderes paranormais e tantos outros personagens que nos assustam, chocam, irritam e emocionam com tamanha facilidade.

Na minha mais recente viagem pelo mundo de King, visitei Chester’s Mill. Fiquei sabendo que é perto de Castle Rock, mas da estrada nunca havia notado esta cidadezinha. (Ninguém nota de tão normal que a cidade é.) Até o dia em que uma gigantesca redoma despencou sobre ela e isolou todos os seus moradores do mundo exterior. 

Conheci Chester’s Mill assim, nas primeiras páginas deste livro excelente que é o "Sob a Redoma", lançado no Brasil este ano, pela Suma das Letras.

Nossa Avaliação - 9.0
O enredo é simples, fácil de descrever, mas é impossível contar com detalhes o que acontece nas páginas. No mundo de King, por mais que você conte como foi sua viagem, nada se compara a estar lá e suas mais de novecentas páginas realmente voam em um ritmo que nunca desacelera. 

Neste livro, King trabalha com o comportamento humano confrontado por uma situação inusitada de confinamento. Vejo uma relação forte com outras obras como o conto "O Nevoeiro" em que as pessoas presas em um supermercado envolto em um misterioso nevoeiro tornam-se presas e predadores delas mesmas. Aqui, o nevoeiro cheio de criaturas dá lugar a uma redoma que dá um pequeno choque apenas no primeiro contato com ela.

Percebi que, junto com os demais personagens, comecei a fazer a pergunta que não quer calar: "O que é esta redoma e quando irá sumir?" e é aí que King me prende embaixo da Redoma junto com todo mundo da cidadezinha me envolvendo de uma forma que me foi impossível parar de ler o livro, fora que King massacra com suas as vítimas presa, inclusive comigo. 

Com uma tensão crescente até seu desfecho, todos passam por ganâncias de políticos, injustiças, assassinatos, loucura, maníacos religiosos, artefatos misteriosos, fofocas, intrigas e tantos outros temas muito presentes nos dias de hoje. O mais impressionante do mundo de King é que o sobrenatural está sempre presente, mas o que aterroriza é mesmo o próprio ser humano. 

No conto do nevoeiro, toda a coleção de criaturas gigantes do nevoeiro não é páreo para a fanática religiosa dentro do supermercado. Em "O Iluminado", o hotel assombrado está lá repleto de fantasmas, mas o monstro mesmo é o escritor que resolve correr atrás da família com um machado. Aqui, a redoma, por mais estranha que seja, não consegue competir com o vereador dono de uma loja de carros usados, seu filho e toda a turma de amigos que "tocam o terror" pela cidade.

Outro sentimento trabalhado por King aqui é o da vingança, já retratado em "Carrie" e "A Maldição do Cigano". Enquanto na história do cigano, a vingança é o verdadeiro monstro que amedronta e persegue  o protagonista e assusta o leitor, em "Carrie" e "Sob a Redoma" é a artista principal pela qual torço.

Para concluir, costumo dizer que "Sob a Redoma" é o que "Morte Súbita" da J.K.Rowling sempre quis ter sido. Rowling quis trabalhar o comportamento humano em uma cidadezinha a partir de uma situação extrema. Mas o livro ficou fraco. Por quê? Porque o comportamento humano é sombrio como no mundo intenso de King e não de Hogwarts.

P.S. do Blog: O livro "Sob a Redoma" vai virar uma minissérie de TV que estreia no dia 24 de junho de 2013 nos EUA, ainda sem previsão de estreia no Brasil.

Para maiores informações, visite a página do Facebook da galera do King of Maine, o maior site sobre Stephen King do Brasil, ou a página da série no IMDB.

O trailer segue abaixo, em inglês!


4 comentários:

  1. Primeiro, queria agradecer MUITO o Flávio que é, sem dúvida alguma, nosso maior incentivador e que participa de todas as etapas do nosso projeto, desde o embrião! Muito obrigada MESMO, Flavitcho!
    Segundo, eu PRECISO ler esse livro, demais mesmo! Me lembro até um pouco A Dança da Morte nessa manipulação psicológica dos personagens... estou ansiosa pra começar DJÁAAA, mas preciso acabar Guerra Mundial Z!!!
    Beijocas, amigo!

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  2. Livro fraco. Até a metade é espetacular, mas depois King acaba se perdendo, e o desfecho é decepcionante, assim como Dança da Morte. Dos livros grandes de King nenhum supera Duma Key.

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    1. Não concordo porque AMO Dança da Morte! A M O!

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    2. to lendo agora , e to amando , acho difícil que fique ruim viu. Mas ...

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