terça-feira, 1 de maio de 2012

José de Alencar: um autor a frente do seu tempo (Carla Cristina Ferreira)



Não dá para falar em literatura brasileira sem falar de José de Alencar. Nascido no bairro de Messejana em Fortaleza, em 1829, este cearense arretado foi o grande autor de muitas obras famosas e inspiradoras (pelo menos para mim). Jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, dramaturgo... Alencar deu foi pano pra manga. Estreou como romancista em 1856 com “Cinco Minutos”, mas foi em 1857 que alcançou o sucesso com “O Guarani” (o meu preferido). É bom lembrar que naquela época os romances eram publicados em forma de folhetins nos jornais e só depois eram lançados em livros.

Sou muito suspeita para falar de José de Alencar: de todos os autores nacionais de literatura clássica ele para mim é o melhor. O primeiro romance dele que parou em minhas mãos foi “O Guarani” isso já na época da faculdade, porque infelizmente o meu colégio não focava muito na leitura extracurricular, então acabei não lendo no colégio nenhum desses livros obrigatórios. Foi procurando algo para ler que olhei para a estante de casa e dei de cara com o livro mais grosso e fiquei pensando, será que isso é bom? Na época, a minha mãe estava colecionando uns livros que eram vendidos junto com O Globo. Muitas vezes me perguntei por que ela comprava esses livros, porque lá em casa ninguém curte ler e confesso que só fui pegar gosto pela leitura na fase do vestibular.

Então lá estava eu nas férias da faculdade sem nada para ler, quando resolvi dar uma chance ao Zézinho. Apaixonei-me de cara! Primeiro porque tenho um fascínio enorme por detalhes e descrições e Alencar conseguiu me dragar para dentro do livro com todas as informações sobre a paisagem, as personagens, os confrontos. Muita gente não gosta de detalhismo e concordo que em alguns momentos pode ser chato e apenas uma encheção de linguiça, mas aqui não é o caso.

O romance aborda metaforicamente a criação da civilização brasileira: a chegada dos europeus, a suplentação dos indígenas e a destruição de uma sociedade portuguesa para o surgimento de uma união  entre europeus e indígenas, nascendo assim a nossa nação brasileira.

Nossa Avaliação - 8.5
A obra trata do amor e da devoção do índio Peri à filha do figaldo português, Cecília, e do amor da prima Isabel por Álvaro e deste por Cecília. Tudo pode parecer um pouco platônico até aqui, até a paz entre índios e colonizadores ser ameaçada após a morte acidental de uma índia, culminando no ataque dos índios aimorés à fazenda de D. Antônio, pai de Ceci. Ao mesmo tempo, uma rebelião explode entre os homens de D. Antônio: eles planejam saquear a fazenda e raptar Ceci.

Durante a confusão Álvaro é ferido e Isabel acreditando que seu grande amor morreu, leva-o para seu quarto, fecha todos os postigos e inunda o ambiente com incensos e óleos perfumados com a intenção de morrer asfixiada pela fumaça perfumada, junto ao corpo de Álvaro. Ao perceber que este ainda vive, Isabel tenta, usando suas últimas forças, abrir os postigos, mas Álvaro, ao aceitar o amor de Isabel, prende-a com um beijo, morrendo assim os dois juntos. Nem preciso dizer que essa é a melhor cena do livro, preciso? Chorei e tudo quando li pela primeira vez!!!

Como eu já contei demais, o final fica para os curiosos que estiverem a fim de desbravar 253 páginas. Como as obras de José de Alencar estão em domínio público, quem tiver interesse pode baixar seus livros clicando aqui.

Aproveitando o gancho, vou falar um pouquinho de outras duas obras de Alencar que me marcaram muito. Depois que li “O Guarani”, fiquei louca de vontade de ler outros livros de José de Alencar, então uma amiga me emprestou “Senhora” que eu também adorei.

Nossa Avaliação - 8.5
Um romance urbano que conta a história de Aurélia, menina pobre e filha de costureira que se apaixona e namora Fernando Seixas, um homem ambicioso que termina o relacionamento de olho no dote de Adelaide do Amaral. Acontece que o avô de Aurélia falece e lhe deixa toda a herança. Pensando em vingar-se de Fernando, Aurélia lhe propõe um acordo com a ajuda do tio: casar-se com uma jovem bonita e rica, pelo valor exorbitante de 100 contos de réis, mas sem saber a identidade da noiva que só será revelada na hora da boda.

O acerto de contas chega na noite de núpcias quando Fernando feliz da vida por ter se casado com Aurélia, a quem ainda ama, e agora um homem rico, recebe a notícias que foi “comprado” para exercer o papel de marido de uma mulher da alta sociedade. Assim, passam a dormir em quartos separados e o relacionamento é regado de ironias, sarcasmos e ofensas (os diálogos entre os dois são ótimos).

Aurélia é uma mulher forte e determinada, que apesar do seu amor por Fernando, não quer deixar barato a humilhação que passou ao ser trocada por um dote. Em várias ocasiões ela quase chega a jogar a toalha, colocar sua vingança de lado e admitir que o ama, mas o orgulho sempre acaba falando mais alto, sobrepondo seus sentimentos. Aurélia é uma mulher a frente do seu tempo, pensante, independente e que se opõe a muitas das regras impostas pela sociedade da época.

Nossa Avaliação - 8.0
Não muito diferente é Lúcia: uma famosa e cobiçada cortesã da cidade do Rio de Janeiro e protagonista de “Lucíola”. Ela também é forte e determinada, cobiçada por todos os homens da corte, não apenas por ser bonita e refinada, mas também pelas suas idéias liberais. A chegada de Paulo mexe com os sentimentos de Lúcia que insiste em não se envolver emocionalmente com seus clientes, apesar de se tornar a amante de muitos homens. Com Paulo não é diferente, ele logo acaba envolvido pelos encantos de Lúcia, mas percebe que ela muitas vezes é fria e distante, se dispondo apenas a cumprir o seu papel de oferecer a quem lhe paga pelo prazer através do seu corpo.

Independente dessa frieza, Paulo acaba preso em uma armadilha que ultrapassa os limites do sexo, apaixonando-se  e desejando a mulher por trás da cortesã. Acreditando nesse amor, Lúcia afasta-se da corte e passa a se dedicar ao seu amor. Em meio a brigas, idas e vindas, Lúcia acaba abrindo seu coração e revelando que  na verdade se chama Maria da Glória e que seguiu essa vida após entregar-se a um homem por dinheiro, dinheiro este que foi usado para sustentar seu pai doente e sua irmã pequena. Ao descobrir como Maria da Gloria conseguiu dinheiro para comprar comida, o pai expulsou-a de casa, restando apenas o caminho da prostituição.

Lúcia não pensa duas vezes em fazer o que é preciso para ajudar a sua família, nem em dar a volta por cima e se prostituir para sobreviver, mas deixa o nome de lado assumindo um personagem de forma que suas ações não afetem a vida da irmã.

O final pode decepcionar um pouco, mas levando-se em consideração o ano de 1862, quando o livro foi publicado, e a sociedade conservadora da época, não seria possível terminar esse romance com um “e viveram felizes para sempre”. Assim, o desfecho mostra a purificação da vida mundana de Lúcia através do amor.

Por essas duas obras, considero José de Alencar um autor a frente do seu tempo, por trazer para aquela época personagens femininas tão marcantes. Tanto que em 2005 a Record exibiu a novela Essas Mulheres, onde as protagonistas Aurélia, Lúcia e Mila (Emília de “Diva”) são amigas que vêem o destino separá-las, mas que continuam ligadas. Apesar das adaptações feitas para adequar os três romances, posso dizer que como fã de Alencar o trabalho de criação não deixou nada a desejar. Vale a pena conferir.

Confiram outras obras do autor:

Cinco Minutos (1856); MeuKior (1856); A viuvinha (1857); O guarani (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); Iracema (1865); As minas de prata - 1º vol. (1865); As minas de prata - 2.º vol. (1866); O gaúcho (1870); A pata da gazela (1870); O tronco do ipê (1871); Guerra dos mascates - 1º vol. (1871); Til (1871); Sonhos d'ouro (1872); Alfarrábios (1873); Guerra dos mascates - 2º vol. (1873); Ubirajara (1874); O sertanejo (1875); Senhora (1875); Encarnação (1877).

6 comentários:

  1. Maneiríssimo!!! As mulheres revolucionam à décadas.
    Mais uma vez, parabéns meninas!

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  2. Aline Ribeiro @euleioeassisto1 de maio de 2012 às 10:54

    Foi com José de Alencar que iniciei minha jornada de leitura na vida. Lembro de ser convencida a gostar da lingua portuguesa por uma professora, e esta me fez ler Senhora, um livro que mudou a minha vida.

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  3. oie
    Eu gosto muito do José de Alencar. Meu livro favorito dele é "Senhora"
    adorei seu blog
    estou te seguindo, segue o meu tambem

    http://lostgirlygirl.blogspot.com.br/

    @lostgirlygirl

    bjos

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  4. Não sei porque tem gente que odeia José de Alencar. Eu ADORO "O Guarani" e li também "Senhora", "Lucíola" e "Iracema". Fiz um trabalho pra Ana Cristina - lembra da teacher de Lit. Brasileira, Carlinha - sobre romances indianistas de José de Alencar. Um dos poucos 100 da minha vida na PUC! kkkkkk

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  5. Sou super suspeita pra falar pq tb li "Iracema", "Cinco Minutos" e "A Viuvinha". Simplesmente ADORO!!!

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