quinta-feira, 12 de abril de 2012

O outro lado de Tony Bellotto (Carla Cristina Ferreira)


Nem todo mundo curte, mas todo mundo conhece os Titãs, e bem poucos conhecem a veia literária de Tony Bellotto, guitarrista da banda. Desde pequeno Bellotto se divide entre a música e a literatura, alternando Ernest Hemingway com The Beatles, Jorge Amado com Caetano. Apesar das duas paixões, o lado roqueiro acabou prevalecendo durante grande parte da sua vida se dedicando aos Titãs, mas, em 1994, durante umas longas férias dos palcos, Tony conseguiu dar vazão ao seu lado escritor e no ano seguinte publicou pela Companhia das Letras seu primeiro romance policial “Bellini e a Esfinge”.

Bellini e a Esfinge
Nossa avaliação - 8.0
Apaixonado por livros do gênero, Tony criou o complexo Remo Bellini, um detetive particular boa pinta que trabalha investigando o submundo de São Paulo. Bellini, que detesta ser chamado de Remo, trabalha para Dora Lobo, uma mulher durona, de gosto requintado e que não faz nem um pouco o tipo do Bellini. A maioria dos casos gira em torno de casais traídos até que um renomado cirurgião contrata os serviços da agência para localizar uma garota de programa desaparecida. A investigação muda totalmente de rumo quando o cirurgião acaba sendo brutalmente assassinado.

Durante a investigação, descobrimos que Bellini tem um passado traumático que envolve sua família; que sua relação com as mulheres nunca evolui do campo sexual;  e que seu jeito sarcástico e cínico dá aquele toque de tragicomédia à trama (sem contar as referências à mitologia greco-romana).

Com característica de um filme noir, com referências à música (especialmente ao blues), ao cinema e à literatura, temos aí um livro super bem escrito (não é para menos), de leitura fácil, fluída e que prende a atenção do leitor do começo ao fim.

Nossa avaliação - 6.5
Dois anos depois, em 1997, o nosso detetive volta à ativa em “Bellini e o Demônio” com a missão de descobrir um manuscrito inédito de ninguém menos do que Dashiell Hammett, o mestre do romance policial (os romances de Hammett também são publicados pela Companhia das Letras). Paralelamente, a manchete nos jornais da morte de uma adolescente, encontrada no banheiro da escola com um tiro na testa, não sai da cabeça de Bellini. Álcool, sexo, drogas, blues continuam fazendo parte do universo do detetive com o plus que agora ele terá que encarar de frente seus problemas familiares, além de suas confusões amorosas, marca resgitrada das aventuras de Bellini.

Conforme a leitura avança, vai surgindo uma dúvida: qual a relação entre as duas histórias?; e é só bem depois que percebemos uma pequena relevância entre elas. No fundo, no fundo, Tony faz uma singela homenagem à Hammett e apenas isso. O que interessa na verdade nunca é aquilo que parece ser. Prova disso são as constantes reviravoltas que este caso demoníaco possui.

Em 2001, Tony lançou dois livros: mais um romance policial intitulado “BR 163 – duas histórias na estrada”, que conta a história de Lavínia (uma policial) e Selene (uma prostituta) e  de como suas histórias se cruzam na estrada, e o infanto-juvenil “O Livro do Guitarrista”, com dicas sobre discos e histórias do rock, pelo selo Companhia das Letrinhas. Infelizmente, não tive ainda a oportunidade de ler o “BR 163”, mas fiquei super curiosa e assim que eu der um pulinho no sebo vou procurar por ele.

Bellini e os espíritos
Nossa avaliação - 8.0
Mas a saudade foi tão grande que em 2005 Tony voltou a atacar com “Bellini e os Espíritos”: a agência de Dora Lobo recebe um envelope cheio de dinheiro e uma denuncia de assassinato, fazendo com que Bellini interrompa suas férias e volte correndo para desvendar o caso. A vítima é um simples advogado, sem inimigos, que morreu subitamente durante a corrida de São Silvestre. Independente dos protestos de Bellini e dos amigos da polícia e do IML, Dora manda o detetive ir a fundo nas investigações e mais uma vez Bellini se envolve nas tradicionais confusões amorosas e até com a máfia chinesa.

Eu sou suspeita, pois adorei todas as histórias do Bellini, mas essa me deixou um pouco triste, sei lá. Vale a pena ler todos eles e ver a evolução (ou não) do detetive ao longo dos três livros. Pessoalmente, gostaria muito que o Tony escrevesse um último livro sobre o personagem, dando um closing, mas não acho que isso vai acontecer, infelizmente. No fim, acho que o leitor cria uma relação de dependência muito forte com os personagens que protagonizam mais de um livro, ficando sempre na torcida para que dê tudo certo.

Em 2007 foi a vez de “Os Insones”, uma crônica com a cidade do Rio de Janeiro como pano de fundo e sobre a vida de vários jovens que têm urgência em viver,  mas que de alguma forma não se encaixam no mundo. Depois, em 2010, veio “O Buraco” sobre a vida de um ex-roqueiro dos anos 80 que da mesma forma que conheceu o sucesso meteórico, caiu com a mesma rapidez no esquecimento.

Não cheguei a conhecer estes trabalhos do Tony, então já vi que a minha listinha de leitura vai aumentar!

Com o sucesso dos dois primeiros livros, veio para as telas brasileiras em 2002 a adaptação “Bellini e a Esfinge”, tendo Fábio Assunção no personagem-título e a participação de Mallu Mader como uma garota de programa (uma homenagem ao maridão Bellotto?). O filme ganhou o prêmio do público de melhor filme de longa-metragem de ficção no Festival do Rio BR 2001, antes de entrar em circuito nacional.

93768Em 2010 foi a vez de “Bellini e o Demônio” chegar ao cinema; mais uma vez com Fábio Assunção na pele do detetive e com a participação de Marília Gabriela. Particularmente, detestei esse filme. Passa super longe do livro, no máximo poderia dizer que foi inspirado no livro, pois mudaram completamente a história do começo ao fim, transformando Bellini em algo que ele não é. Não tive oportunidade de ver o primeiro filme, mas acredito que seja bem melhor do que o segundo para ganhar o prêmio que ganhou. Fiquei tão revoltada que perdi completamente a vontade de assistir ao "Bellini e a Esfinge".

Se alguém viu o filme, deixe um comentário sobre sua opinião e diga o que achou, ok?

Além de escritor e músico, Tony Bellotto também é apresentador do programa Afinando a língua, do Canal Futura.

Confiram as capas dos outros livros:

BR 163No BuracoOs Insones

2 comentários:

  1. Só li o primeiro livro e gostei. Não sabia que ele já tinha uma obra tão extensa assim. Não gostei muito das capas da série do Bellini, menos ainda a que tem o Fábio Assunção. Nada contra o Fábio Assunção, mas eu imaginava o Bellini bem diferente.
    Gostei das capas dos últimos livros. Deu pra notar que quem faz as capas gosta muito de preto-e-branco, variações de cinza, desbotado, desfocado e paisagens urbanas, né? Exceto a do meio, claro.
    Adorei as resenhas.

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  2. Super resenhas. Também não sabia que ele tinha tantos livros publicados. Como você mesma disse, já vi que minha listinha vai aumentar, kkkkkkk.
    Bjnhs e, mais uma vez, parabéns à vocês, meninas!

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