sexta-feira, 3 de abril de 2015

Casamento entre desconhecidos (Renata Lima)


Fiquei muito na dúvida se faria ou não uma resenha de "Na Praia" de Ian McEwan não porque não gostei do livro, mas porque não é um livro fácil de ser lido e menos ainda de ser compreendido porque eu pelo menos sou o tipo de leitora que gosto das coisas bem resolvidas no final e não é isso que esse livro oferece.

Nossa Avaliação - 8.5
Na Inglaterra do ano de  1962, Edward Mayhew e Florence Ponting são recém casados em sua noite de núpcias em um hotel na praia. Tanto Florence quanto Edward se mantiveram virgens em nome do amor e dos bons costumes ditados pela época. Jovens, Edward é formado em História e Florence em Música.

As diferenças entre Edward e Florence já começam a aparecer no início: os pais de Florence são abastados e o pai dela oferece um emprego a Edward. A família de Edward é humilde, sua mãe é doente mentar e seu pai professor.

Sozinhos nessa atmosfera paradisíaca, Edward e Florence não sabem exatamente o que fazer e, depois do jantar, decidem ir para a cama para acabar logo com a tão desejada (por Edward) e temida (por Florence) primeira relação sexual. 

A inexperiência do casal, seus pensamentos, desejos e lembranças são liberados para nós e, através de flashbacks, somos levados por todo o relacionamento desses dois inocentes ao longo dos anos. Todos os planos, toda a liberdade que viria com o casamento, a contenção do desejo sexual de Edward, a ojeriza ao beijo de língua de Florence, tudo é escrutinado nos mínimos detalhes pintando um quadro da tragédia que está prestes a se desenrolar.
Seu ódio atiçou o dela, e de repente ela achou ter entendido o problema deles: eram demasiado educados, demasiado embaraçados, demasiado tímidos, andavam às voltas um do outro na ponta dos pés, murmurando, sussurrando, adiando, submetendo-se. Mal se conheciam, e nunca puderam se conhecer por causa da cortina de fumaça que enevoava suas diferenças com uma quase-mudez amistosa e os cegava tanto quanto os limitava.
Apesar de saber nada acabaria bem para esse casal tão diferente, torci para que a compreensão mútua fosse determinante, para que, ainda que a noite de núpcias não acabasse bem, houvesse um futuro, uma conversa às claras que fosse esclarecer todas as agruras, todas as palavras pesadas trocadas entre os dois em um momento que deveria ser de felicidade. Ainda sim entendo a decisão do autor em manter o realismo de uma sociedade extremamente retrógrada e hipócrita exemplificando suas mudanças ao longo dos anos que se seguiram para Florence e para Edward.

Gostei muito do livro, mas como disse no começo, esperava um final bem diferente!

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