segunda-feira, 14 de abril de 2014

Solidão + Depressão = Esquecimento (Renata Lima)


Para começar abril com o pé direito, iniciei a leitura de um livro que eu já queria ler há algum tempo, por causa de outro livro da mesma autora (o "No Escuro", já resenhado aqui no blog), então não houve qualquer hesitação da minha parte ao escolher "Restos Humanos" da Elizabeth Haynes.

Nossa Avaliação - 8.5
O livro conta a história de Annabel Hayer, uma jovem que trabalha para a polícia britânica como analista de informações. Um belo dia Annabel está procurando sua gata temperamental e vai parar na casa da vizinha, a quem ela não vê há muito meses.

Por causa do abandono da casa e dos jardins, Annabel tem quase certeza de que a mulher se mudou, mas mesmo assim acaba entrando na casa porque vê uma luz acesa no meio do caos e da escuridão e acaba achando o corpo já putrefato da vizinha em uma cadeira.

A polícia só aparece no dia seguinte e dão a morte como natural, mas insatisfeita com a explicação Annabel começa a conduzir sua própria investigação, notando que há um aumento de casos como aquele: mortes naturais, sem explicação, em que os corpos só são descobertos semanas ou meses depois quase sempre devido ao mau cheiro e nunca devido à falta que aquelas pessoas fazem para outras pessoas.

Logo os jornalistas têm acesso às informações das mortes e um jornalista íntegro e simpático chamado Sam Everett começa uma campanha com um slogan muito simples:  cuide de seus vizinhos. Mas isso nem sempre é bom, certo? Imagina um vizinho tendo suspeitas sobre o outro e acionando a polícia a troco de nada? 

Aos poucos, Annabel percebe que ela poderia ser um daqueles cadáveres se não fosse por sua mãe: ela não tem amigos próximos, não fez amizades no trabalho, não é uma pessoa marcante em nenhum aspecto. A vida dela se resume em trabalhar e ajudar a mãe, de quem ela mora bem perto e de quem nunca recebe qualquer reconhecimento. A relação entre as duas é no mínimo fria.

Mas um dia a vida de Annabel tem um revés. Ela tira algumas folgas do trabalho e, em meio a tanta coisa para resolver, acaba sucumbindo ao cansaço, notando então que existe uma solidariedade no esquecimento, uma ausência de tudo quando a pessoa se entrega completamente nas mãos do nada, na jornada em busca de um fim para a dor, uma resposta às injustiças da vida. E é a partir desse ponto que a narração engata e você não quer mais largar o livro.

É importante salientar que são vários os narradores e que eles se alternam: Annabel, Colin, as pessoas mortas e notícias de jornal. A gente não se confunde porque cada capítulo começa com o nome de quem o está narrando. Só senti falta da narração do Sam porque ele é um personagem tão legal que merecia ter sua voz ouvida, mas isso não prejudica em nada o livro.

O título do livro é ótimo também, percebam, não são restos mortais, são restos humanos! São seres humanos deixados para trás, esquecidos, maltratados pela vida de uma certa forma, levados ao extremo de suas humanidades, levados ao limite de suas forças, encontrando alguém extremamente mal intencionado na forma de salvador.

Elizabeth Haynes nos leva ao fascinante mundo dos esquecidos ao qual estamos bem familiarizados. Quanto tempo você já passou sem ver um vizinho e nem ao menos foi bater na porta dele para saber se precisava de alguma coisa? No mundo atual parece que estamos cada vez mais individualistas e autocentrados nas nossas necessidades e de mais ninguém.

O livro não se presta a fazer uma crítica a isso e sim uma constatação. É assim que é, é assim que funciona: cerque-se de amigos, de pessoas que lhe querem bem, faça-se notar. Quem sabe assim, se alguém notar sua ausência, pode até salvar sua vida!


13 comentários:

  1. Amei a resenha! Fiquei mais interessada ainda em ler esse livro.
    E fiquei com a pergunta: será que minha ausência é sentida nos lugares?

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    1. Exatamente, Aline!!! Depois que eu li eu até me senti bem por ter amigos e família e tal, mas às vezes eu passo DIAS sem ver os meus vizinhos! É meio preocupante, mas acho que os livros da Haynes têm esse tom de reflexão, exceto o tal "Vingança da Maré" que não gostei.
      Beijos

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    2. Vou ler! Acho que a autora se inspirou na minha vida sem saber!

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    3. Ah que isso, Giza! Eu sinto a sua falta!!! Vc sabe disso!
      beijooooo

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  2. Renata,
    Eu tinha uma ideia totalmente diferente desse livro. O título me levava a outra concepção.
    Indo ler agora.
    A resenha ficou ótima. Você arrasa, sempre!
    bjs,
    Luana.

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    1. Ai que bom que fiz você mudar de ideia, Lua!!!
      Depois volta aqui pra dizer o que vc achou?
      Um beijo grande!!! E obrigada pela visita!

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  3. Gostei muito disso: "O título do livro é ótimo também, percebam, não são restos mortais, são restos humanos! São seres humanos deixados para trás, esquecidos, maltratados pela vida de uma certa forma, levados ao extremo de suas humanidades, levados ao limite de suas forças, encontrando alguém extremamente mal intencionado na forma de salvador." Claro que vou ler...

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    1. Ai, Mi, brigada! Acho que eu tava inspirada quando escrevi essa resenha! kkkkk
      beijos

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  4. Amei No Escuro e detestei Vingança da Maré. Por isso, esse livro será o tira teima, para saber se continuo com Elizabeth ou a abandono. Mas sua resenha me motivou a continuar. Estava esperando alguma opinião positiva para comprá-lo.

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    1. Também não gostei de "Vingança da Maré", mas esse eu curti bastante!!!
      Depois me diga o que vc achou!
      Bjs

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  5. Renata, que delicia de resenha!
    Ja tinha visto sua resenha de No Escuro, que eu tbe amei!
    Fiquei com agua na boca. Ja coloquei na minha lista. Esta autora é otima!
    Parabens, querida
    Vou linkar o blog para acompanhar mais de perto as resenhas
    Bjks mil

    www.blogdaclauo.com

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    1. Delícia é receber um comentário desses, Claudia!
      Muuuuuito obrigada! Recomendo mesmo o livro e, como eu disse, apesar de ter me decepcionado com "Vingança da Maré" a autora ainda é um dos destaques contemporâneos!!!
      Beijos

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