quarta-feira, 2 de abril de 2014

Desafio Skoob Março: Suspense policial à la Espinosa (Carla Cristina Ferreira)


Na onda do desafio Skoob de março (o tema foi mistério, suspense ou policial) decidi mudar um pouco e me aventurar em águas nacionais. No Vlog #010, no qual falamos de nossas metas de leituras para março e abril, eu citei que leria um livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza, chamado “Uma Janela em Copacabana”, mas depois descobrir que este é o quarto livro que traz o policial Espinosa como protagonista.

Nossa avaliação - 7.5
Assim, a Rê foi muito legal (como sempre) e conseguiu o e-book dos livros anteriores e como houve uma pequena e temporária mudança na minha rotina, tive que deixar os livros físicos de lado por um tempo e só estou lendo em formato digital.  Então hoje eu trago na verdade uma dobradinha do autor.

Primeiro vou falar de “O Silêncio da Chuva”, primeiro romance de Garcia-Roza e que ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura de 1997.

Ambientado na cidade do Rio de Janeiro e levando o leitor a percorrer as ruas do centro da Cidade - da Praça Mauá, passando pelo Flamengo, pelo Jardim Botânico e por Copacabana – nos deparamos com Ricardo Carvalho, um executivo que é encontrado morto com um tiro dentro de seu carro no edifício-garagem Menezes Cortes, mas a arma do crime não é encontrada, assim como alguns pertences da vítima. O encarregado de solucionar este crime é o inspetor Espinosa da 1ª DP.

Mil conjecturas passam pela cabeça de Espinosa, mas como ele próprio salienta em algumas passagens, a polícia do Brasil não possui recursos tão avançados como mostram as séries de televisão e os filmes americanos. Aqui não é possível através de um fio de cabelo ou de um pequenino pedaço de papel descobrir o assassino; assim como é impossível identificar um corpo queimado e com as mãos decepadas pela arcada dentária (já que grande parte da população não tem acesso à dentista) ou por DNA (o exame é muito caro e a polícia não vai jogar dinheiro fora).

O número de envolvidos com o morto também contribui para alimentar mais elucubrações à mente fantasiosa do nosso inspetor, mas a coisa complica mesmo quando a secretária do falecido desaparece misteriosamente após entrar em contato com a viúva da vítima.

Espinosa não é um típico policial: ele gosta de ler, é bem-educado, trata bem as pessoas, independente da classe social e, além disso, gosta de “filosofar”, como condiz o seu nome sobre sua vida, em especial sobre sua vida amorosa.

Obviamente o livro é bem-escrito, afinal ganhou o Jabuti, mas em termos de história achei um pouco previsível: logo na metade do livro já tinha descoberto o vilão. Mas o que me surpreendeu mesmo foi o final. Nunca imaginei que uma mulher teria uma determinação tão grande e que poderia usar seu sexo como uma arma tão poderosa!

Em contrapartida, o destino de Rose (a secretária desaparecida) foi insatisfatório para mim; acho que ela merecia algo mais definido, mas palpável, principalmente depois de uma atitude tão forte quanto à dela; provavelmente a personagem mais forte do livro.

O título está intrinsecamente relacionado com a ambientação da história, pois a chuva não deixa de ser uma personagem secundária a quem Espinosa parece direcionar suas perguntas, mas sem nunca obter uma resposta.

Aproveitando o embalo, e que os livros são finos, emendei logo no segundo livro, “Achados e Perdidos”, no qual Espinosa é agora delegado, atuando em Copacabana.

Nossa avaliação - 7.5
Desta vez nosso protagonista precisa solucionar o assassinato de uma prostituta que foi asfixiada na própria cama. O problema é que o principal suspeito é o ex-delegado Vieira, amigo de Espinosa, que na noite do crime saiu com a vítima, mas não se lembra de nada, graças a uma bebedeira; bebedeira esta que o fez perder sua carteira.

Vieira é o oposto de Espinosa: beberrão, obeso, vulgar... Mas apesar de tudo tem bom coração e fica aflito ao perceber que talvez ele tenha cometido o crime, já que seu cinto foi utilizado para prender a vítima à cama. Para complicar a posição de Vieira, Flor, amiga da vítima e também prostituta, resolve "herdar" Vieira, cuidando dele exatamente da mesma forma que a falecida amiga cuidava dele; aumentando as suspeitas de Espinosa.

Durante a investigação, outros acontecimentos vão se mesclando ao crime principal, levando nosso delegado a mil conjecturas: pode o desaparecimento da carteira ter algum envolvimento com a morte de Magali, a prostituta? O que meninos de rua, policiais corruptos, um educador de rua e uma mulher mortalmente sexy têm em comum? Há alguma relação com a carteira ou com assassinato inicial? Pode algo tão simples trazer ramificações tão perigosas à Espinosa e às pessoas que o cercam?

Assim como o primeiro livro, neste segundo o título é apropriado à trama, apesar de se perder mais do que achar - carteira, confiança, esperança, medos, pessoas... Enquanto “O Silêncio da Chuva” nos apresenta nosso protagonista e suas peregrinações pelos bairros do Rio de Janeiro, no segundo ficamos restritos às ruas de Copacabana e à sua vida noturna às vésperas do natal.

O livro peca apenas pela repetição de algumas informações e por, mais uma vez, ter sido fácil descobrir o vilão da história. Assim, como também teve um final inesperado e um tanto abrupto como seu antecessor, mas sem desmerecer a obra ou impactar o resultado final.

Recomendo o autor como uma leitura sem compromissos, pois não é um suspense intricado de tirar o sono, apesar de em alguns momentos Espinosa “filosofar” e refletir muito sobre sua vida e suas ações, o que pode talvez cansar o leitor.

Em 2007, o livro foi adaptado para o cinema, mas sem a participação de Espinosa, tendo como protagonista Antônio Fagundes no papel de Vieira. Não vi o filme, mas para quem tiver interesse, segue o trailer abaixo:





2 comentários:

  1. Eu só li o primeiro livro porque meu amigo Lu ficou me enchendo o saco que o segundo livro era muito bom e confesso que tive a mesma impressão que você. O livro é bem escrito, mas a história carece de sacadas melhores, de um mistério mais elaborado. Isso sem contar que nas primeiras páginas a gente já sabe o que aconteceu com o falecido, acho que talvez se ele tivesse escondido isso a história ficaria mais interessante, ficaria pelo menos o mistério de QUEM MATOU RICARDO?
    Mas enfim, valeu conhecer um novo autor nacional relativamente interessante. Talvez a série engate mais pra frente. Vou deixar pra ler o segundo livro em algum desafio nos próximos meses.
    Beijos.

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  2. Que bom ver esses livros por aqui! Morro de curiosidade para ler algo do autor. Adoro quando a investigação é mais real, sabe? Sem tecnologias ultramodernas, sem policiais que são verdadeiros heróis. Acho que vou gostar das aventuras do Espinosa.
    bjo

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