Na onda do desafio Skoob de março
(o tema foi mistério, suspense ou policial) decidi mudar um pouco e me
aventurar em águas nacionais. No Vlog #010, no qual
falamos de nossas metas de leituras para março e abril, eu citei que leria um
livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza, chamado “Uma Janela em Copacabana”, mas
depois descobrir que este é o quarto livro que traz o policial Espinosa como
protagonista.
Nossa avaliação - 7.5 |
Assim, a Rê foi muito legal (como
sempre) e conseguiu o e-book dos livros anteriores e como houve uma pequena e
temporária mudança na minha rotina, tive que deixar os livros físicos de lado
por um tempo e só estou lendo em formato digital. Então hoje eu trago na verdade uma dobradinha
do autor.
Primeiro vou falar de “O Silêncio
da Chuva”, primeiro romance de Garcia-Roza e que ganhou o Prêmio Jabuti de
Literatura de 1997.
Ambientado na cidade do Rio de
Janeiro e levando o leitor a percorrer as ruas do centro da Cidade - da Praça
Mauá, passando pelo Flamengo, pelo Jardim Botânico e por Copacabana – nos
deparamos com Ricardo Carvalho, um executivo que é encontrado morto com um tiro
dentro de seu carro no edifício-garagem Menezes Cortes, mas a arma do crime não é
encontrada, assim como alguns pertences da vítima. O encarregado de solucionar
este crime é o inspetor Espinosa da 1ª DP.
Mil conjecturas passam pela
cabeça de Espinosa, mas como ele próprio salienta em algumas passagens, a
polícia do Brasil não possui recursos tão avançados como mostram as séries de
televisão e os filmes americanos. Aqui não é possível através de um fio de
cabelo ou de um pequenino pedaço de papel descobrir o assassino; assim como é
impossível identificar um corpo queimado e com as mãos decepadas pela arcada
dentária (já que grande parte da população não tem acesso à dentista) ou por
DNA (o exame é muito caro e a polícia não vai jogar dinheiro fora).
O número de envolvidos com o
morto também contribui para alimentar mais elucubrações à mente fantasiosa do
nosso inspetor, mas a coisa complica mesmo quando a secretária do falecido
desaparece misteriosamente após entrar em contato com a viúva da vítima.
Espinosa não é um típico policial:
ele gosta de ler, é bem-educado, trata bem as pessoas, independente da classe
social e, além disso, gosta de “filosofar”, como condiz o seu nome sobre sua
vida, em especial sobre sua vida amorosa.
Obviamente o livro é bem-escrito,
afinal ganhou o Jabuti, mas em termos de história achei um pouco previsível:
logo na metade do livro já tinha descoberto o vilão. Mas o que me surpreendeu
mesmo foi o final. Nunca imaginei que uma mulher teria uma determinação tão
grande e que poderia usar seu sexo como uma arma tão poderosa!
Em contrapartida, o destino de
Rose (a secretária desaparecida) foi insatisfatório para mim; acho que ela merecia algo mais definido, mas
palpável, principalmente depois de uma atitude tão forte quanto à dela;
provavelmente a personagem mais forte do livro.
O título está intrinsecamente
relacionado com a ambientação da história, pois a chuva não deixa de ser uma
personagem secundária a quem Espinosa parece direcionar suas perguntas, mas sem
nunca obter uma resposta.
Aproveitando o embalo, e que os
livros são finos, emendei logo no segundo livro, “Achados e Perdidos”, no qual
Espinosa é agora delegado, atuando em Copacabana.
Nossa avaliação - 7.5 |
Desta vez nosso protagonista precisa
solucionar o assassinato de uma prostituta que foi asfixiada na própria cama. O
problema é que o principal suspeito é o ex-delegado Vieira, amigo de
Espinosa, que na noite do crime saiu com a vítima, mas não se lembra de nada,
graças a uma bebedeira; bebedeira esta que o fez perder sua carteira.
Vieira é o oposto de Espinosa:
beberrão, obeso, vulgar... Mas apesar de tudo tem bom coração e fica aflito ao
perceber que talvez ele tenha cometido o crime, já que seu cinto foi utilizado
para prender a vítima à cama. Para complicar a posição de Vieira, Flor, amiga
da vítima e também prostituta, resolve "herdar" Vieira, cuidando dele exatamente
da mesma forma que a falecida amiga cuidava dele; aumentando as suspeitas de
Espinosa.
Durante a investigação, outros acontecimentos
vão se mesclando ao crime principal, levando nosso delegado a mil conjecturas:
pode o desaparecimento da carteira ter algum envolvimento com a morte de
Magali, a prostituta? O que meninos de rua, policiais corruptos, um educador de
rua e uma mulher mortalmente sexy têm em comum? Há alguma relação com a
carteira ou com assassinato inicial? Pode algo tão simples trazer ramificações
tão perigosas à Espinosa e às pessoas que o cercam?
Assim como o primeiro livro,
neste segundo o título é apropriado à trama, apesar de se perder mais do que
achar - carteira, confiança, esperança, medos, pessoas... Enquanto “O Silêncio da
Chuva” nos apresenta nosso protagonista e suas peregrinações pelos bairros do
Rio de Janeiro, no segundo ficamos restritos às ruas de Copacabana e à sua vida
noturna às vésperas do natal.
O livro peca apenas pela repetição
de algumas informações e por, mais uma vez, ter sido fácil descobrir o vilão da
história. Assim, como também teve um final inesperado e um tanto abrupto como
seu antecessor, mas sem desmerecer a obra ou impactar o resultado final.
Recomendo o autor como uma
leitura sem compromissos, pois não é um suspense intricado de tirar o sono,
apesar de em alguns momentos Espinosa “filosofar” e refletir muito sobre sua
vida e suas ações, o que pode talvez cansar o leitor.
Em 2007, o livro foi adaptado
para o cinema, mas sem a participação de Espinosa, tendo como protagonista
Antônio Fagundes no papel de Vieira. Não vi o filme, mas para quem tiver
interesse, segue o trailer abaixo:
Eu só li o primeiro livro porque meu amigo Lu ficou me enchendo o saco que o segundo livro era muito bom e confesso que tive a mesma impressão que você. O livro é bem escrito, mas a história carece de sacadas melhores, de um mistério mais elaborado. Isso sem contar que nas primeiras páginas a gente já sabe o que aconteceu com o falecido, acho que talvez se ele tivesse escondido isso a história ficaria mais interessante, ficaria pelo menos o mistério de QUEM MATOU RICARDO?
ResponderExcluirMas enfim, valeu conhecer um novo autor nacional relativamente interessante. Talvez a série engate mais pra frente. Vou deixar pra ler o segundo livro em algum desafio nos próximos meses.
Beijos.
Que bom ver esses livros por aqui! Morro de curiosidade para ler algo do autor. Adoro quando a investigação é mais real, sabe? Sem tecnologias ultramodernas, sem policiais que são verdadeiros heróis. Acho que vou gostar das aventuras do Espinosa.
ResponderExcluirbjo