quarta-feira, 30 de abril de 2014

Culpado ou inocente? (Renata Lima)


Não se engane: esse não é um livro de suspense ou policial, é um drama com pitadas do suspense que acabam por mostrar que em algumas circunstâncias da vida é preciso escolher entre dois caminhos: o certo ou o errado.

"O Culpado" de Lisa Ballantyne narra a história de Daniel Hunter, um advogado com um passado traumático: sua mãe perdeu sua guarda por causa das drogas e ele foi colocado em uma casa temporária, no sítio de Minnie, uma mulher energética e carinhosa, quase o oposto de sua própria mãe.

Nossa Avaliação - 8.0
Depois de algumas tentativas de fuga e de passar por um lar experimental, Daniel e Minnie desenvolvem uma relação de mãe e filho, mesmo que a própria Minnie guarde suas sequelas: a filha pequena morta em um acidente de carro em que ela mesma dirigia e o marido se suicidou pouco tempo depois.

Minnie, que nunca tinha se prendido demais às crianças que passavam temporariamente por sua casa, sente uma afeição incontrolável por Daniel e consegue adotá-lo e dar a ele um rumo na vida, incentivando-o a estudar e a se formar em Direito. Mas infelizmente, a relação dos dois sofre um revés quando Daniel  já está na faculdade e descobre que Minnie mentiu para ele sobre algo importante e ele corta relações com a mãe adotiva e a trata com indiferença e raiva toda vez que ela entra em contato com ele.

As lembranças de Daniel voltam à tona em meio a um dos casos mais difíceis de sua carreira. O motivo da volta de suas lembranças: uma carta de Minnie dizendo que está morrendo e que quer vê-lo pelo menos uma última vez. O motivo da dificuldade do caso: seu cliente Sebastian Croll, de onze anos, é acusado de matar um menino menor que ele, Ben Stokes, de oito anos, com uma tijolada.

Enquanto descobrimos um pouco mais sobre a história de Daniel e questionamos a possível inocência de Sebastian, que por um lado demonstra frieza e inteligência por outro imaturidade e inocência, a situação de Sebastian se complica e ele é indiciado por homicídio e deve provar sua inocência diante de um juri.

As histórias de Daniel e Sebastian parecem ter pouca coisa em comum, mas são as duas que dão ritmo ao livro, alternando os capítulos entra a vida pregressa de Daniel, focado no desenvolvimento de seu relacionamento afetivo com Minnie, e o julgamento de Sebastian, a difícil relação dos pais do menino e a entrada de Irene no caso. Irene é a colega de trabalho que o ajudou da defesa de um outro jovem envolvido com uma gangue e que foi condenado à prisão aos quinze anos de idade.

Qualquer coisa que eu revele da história além disso, é spoiler, por isso eu vou ressaltar que eu adoro livros que me ensinam alguma coisa, que trazem informações interessantes, que me levam a pensar e a refletir sobre a vida real, mesmo que os personagens seja fictícios. Esse livro me ensinou, por exemplo, que a idade para ser processado criminalmente na Inglaterra e no País de Gales é de 10 anos, em Portugal, 12 anos, na França 13 anos, nos países escandinavos, 15 anos e na Bélgica e na Escócia, 18 anos. E que nem sempre diminuir a maioridade penal ajuda a inibir ou diminuir a criminalidade, uma vez que muitas vezes essa criminalidade tem a ver com a criação em um ambiente hostil e violento.
Mas o que realmente me irrita é o fato de não ter nada a ver com dinheiro, recursos, nem nada desse lixo. Basicamente, qual é a porcentagem das pessoas que você defende que têm origens problemáticas: drogas, violência doméstica, 80%? A vasta maioria dos clientes teve uma criação difícil... você sabe quanto uma criança desestruturada vai custar ao Estado ao longo da vida? Mais de meio milhão de libras. Um ano de terapia individual custaria um décimo disso, no máximo. O encarceramento é uma coisa antiga e muito cara também. Apenas a matemática devia convencê-los!
Mas assim como algumas coisas no livro são muito interessantes, entre elas como funcionam os tribunais britânicos, essa questão da maioridade penal e, em termos de história, a identificação que Daniel tem com Sebastian, de forma que o garoto não aceita que qualquer outro advogado seja seu defensor, outras me irritaram um pouco. 

A primeira delas é que o tal motivo do rompimento de relações entre Daniel e Minnie, apesar de muito óbvio, só é divulgado depois dos 70% do livro, não tinha necessidade dessa enrolação toda. A segunda é que Daniel diz ter tanta pena de Sebastian, tanta vontade de provar sua inocência e toda vez que o menino tenta falar com ele no tribunal durante o julgamento vem a frase "Sebastian tentou falar alguma coisa, mas Daniel levantou a mão para que se calasse." E nada disso é explicado depois. O que Sebastian queria dizer no meio de um depoimento importante como a da legista, o do psicólogo? Nunca saberemos. E isso me deixa muito frustrada.

Toda a pressuposta culpa de Sebastian me lembrou muito o caso real dos Três de Memphis (West Memphis Three) quando toda a comunidade e a imprensa já consideravam os jovens culpados antes mesmo do julgamento, mas confesso que o título do livro fez com que eu me preocupasse com o final, apesar do título do livro não dar muita margem à imaginação. E não é um problema de tradução, já que em inglês o nome do livro é "The Guilty One" (e vejam que capa linda!).

Independente disso, gostei muito da forma com a qual a autora narra o livro, gostei da capa nacional e editorialmente o livro é muito bom! O que mais gostei, no entanto, foi justamente essa discussão proposta sobre maturidade e maioridade penal, sobre recuperar ou condenar crianças e jovens, discussão essa que não é muito aprofundada, penso eu, justamente para que a sementinha da dúvida e da reflexão seja plantada em cada um de nós, mesmo vivendo em uma realidade tão diferente da europeia, onde vira e mexe se discute diminuir a maioridade penal de 18 para 16 e até para 14 anos.

Com as nossas cadeias superlotadas e nossos presos ociosos, eu acredito que essa não seja a solução para o fim da criminalidade que assola nosso país. Concordo, algo precisa ser feito, mas jogar crianças de 14 ou 16 anos nesse sistema carcerário do jeito que está é dar a elas a chance de fazer escola no mundo do crime. Como muitos, ainda acredito que a Educação é o único caminho para um exercício saudável da cidadania e consequentemente para afastar crianças e jovens da vida do crime.

5 comentários:

  1. Nossa, não conhecia o livro, mas já estou correndo para o skoob para anotá-lo. Gostei bastante da trama, sua resenha está ótima.
    Adoro dramas fortes com pitadas de suspense, é a pedida perfeita para um final de semana chuvoso, rs o tempo ta chaaato aqui no Rio.
    Valeu pela dica, adorei seu blog.
    Beijos

    Camila Leite
    @sonhospontinhos
    http://sonhosentrepontinhos.com

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    1. Que legal que você gostou, Camila!!! Acho que vale a pena sim!
      Dá uma raivinha no final, mas é muito bom!
      Beijos grandes!

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  2. Oi Renata
    Parece ser bem interessante
    Não li este ainda
    Adorei sua resenha
    Bjks mil

    www.blogdaclauo.com

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    1. Muito obrigada, Claudia!
      Quando vc acabar de ler, volte aqui pra deixar sua opinião pra gente!
      Beijocas

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  3. Eu não gosto muito de dramas, mas eu fiquei interessada nessa historia, acho que vou por no book jar...
    Ótima resenha Renata.

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