sexta-feira, 7 de março de 2014

Sensível, dramático e apaixonante (Renata Lima)


Li "Menino de Ouro" para o Desafio do Facebook de Fevereiro (o tema do Desafio esse mês foi "Livro com um animal no título" - e eu li "O Destino do Tigre" - e o Desafio Surpresa foi "Livro com a palavra 'menino' ou 'menina' no título" - e eu escolhi esse) e apesar de ter um monte de resenha pra entrar antes dessa, resolvi antecipá-la porque acho que é uma dica que vale muito a pena!

Nossa Avaliação - 9.0
O lindo Max é um rapaz de 16 anos, destaque no time de futebol, compassivo, inteligente, legal com todo mundo e faz sucesso com as meninas. A família de Max é bem estruturada, os pais são figuras importantes e o super esperto irmão de 10 anos, Daniel, é uma figura. Tudo é aparentemente normal nessa família certinha até que um dia o "normal" foge do controle e Max precisa lidar com um segredo que ele vem escondendo há muito tempo.

Ao contrário de algumas resenhas por aí, não vou revelar o segredo de Max, porque lendo somente a sinopse, não dá pra saber o que é e eu não quero que ninguém se sinta influenciado por isso para decidir se vai ou não ler o livro. Eu, por exemplo, que só tinha lido a sinopse, fiquei embasbacada e acho melhor que vocês também fiquem, portanto vou falar de tudo da forma mais superficial possível para não estragar a surpresa!

O problema principal é que a vida calculadamente construída de Max e sua família se desfaz aos poucos a partir de um evento traumático e Max, até então um jovem que ia com a maré, se vê questionando sua sexualidade, seus relacionamentos e as decisões que foram e continuam sendo tomadas e que culminam no momento em que ele, submisso, sofre praticamente em silêncio enquanto tenta manter a fachada de menino de ouro, filho perfeito, irmão atencioso e pegador das meninas do colégio.

O livro é narrado em primeira pessoa por diversos personagens e não existe número de capítulos. O título do capítulo é o nome do personagem que o narra e confesso que nem senti falta de uma capitulação propriamente dita. Dividindo o livro em três partes, a autora Abigail Tarttelin conseguiu algo muito difícil com esse tipo de narração: encontrar a voz de cada personagem de forma que, mesmo se o nome dele não tivesse sido destacado no começo, nós conseguiríamos identificá-lo simplesmente pela "fala".

"Intenso" é a palavra que eu usaria para descrever esse livro. Raros são os parágrafos que poderiam ser descartados e todos os capítulos mantém o mesmo ritmo ascendente, crescendo em drama e intensidade até que o leitor não consiga mais parar de ler. Informativo, relevante, verdadeiro, eu indico demais esse livro para todos aqueles que apreciam o gênero dramático e tenham a mente aberta para descobrir que os seres humanos não são tão diferentes uns dos outros, independente de religião, orientação sexual, nacionalidade e gênero.

Mas não confundam esse livro com um YA dramático como "A Culpa é das Estrelas". Não tem nada a ver! Aqui, todos são seres humanos e como tal todos comentem erros, seja no presente ou no passado, que podem e vão interferir não só na vida de Max, mas na vida de todos os envolvidos. É interessante como de certa forma todos os narradores acham uma forma de atingir o nosso coração, mesmo cometendo atos tão repreensíveis.

O personagem Max é maravilhoso em sua complexidade, em seus questionamentos, em sua dor, mas eu elegeria Daniel Walker, o prodígio viciado em videogames, de 10 anos, meu personagem favorito. Tido como insensível, Daniel, para mim, é na verdade o mais sensível do livro e mostra como uma criança pode ler nas entrelinhas os problemas que os adultos tentam ao máximo esconder, seja por proteção ou por vergonha, e como pode compreender e aceitar qualquer coisa com aquela inocência característica e com uma total ausência de julgamento e crítica com relação a algo tão grave quanto o segredo de Max.

Minha passagem favorita é quando Max e Daniel conversam sobre como os segredos podem ser assustadores:
- Segredos são como vermes invisíveis. -  Max diz lentamente. - Não. São como zumbis. Eles devoram o seu cérebro... - Ele toca o meu pulso. - Você sabe, tipo os zumbis do Deadland. E aí eles saem e comem as suas entranhas, então você fica vazio, você fica vazio, e não consegue ser corajoso. E eles comem... as suas cordas vocais, e então você não tem voz. Você não consegue falar. E eles comem...- O quê? O que mais eles comem?- Eles saem de você e engolem todo o ar ao seu redor. Eles sugam todo o oxigênio, e você não consegue respirar. Em seguida, eles comem as outras pessoas ao seu redor. [...] É tipo... eles comem o amor e a empatia, por isso os laços que os ligam às outras pessoas são corroídos, até que eles se tornem muito finos e possam se partir com facilidade.
Eu não gostei muito da capa do livro, apesar de entender o que ela significa e de ser a mesma capa de uma das edições americanas. Não gostei porque é difícil ler o que está escrito em letras menores, não gostei porque é muito colorida, não gostei porque as letras são preenchidas e parecem diferentes umas das outras, não sei... não me conquistou. 

Outra coisa de que não gostei muito foi o final. Há uma resolução, é claro, mas eu esperava saber mais sobre o desenvolver do relacionamento dos dois personagens principais e de como eles fariam para ultrapassar as barreiras impostas pelo grande segredo de Max. Mas talvez essa tenha sido a intenção da autora: deixar o final sem esse desfecho específico para que o futuro fique apenas em nossa imaginação!

6 comentários:

  1. Puxa Renata, que resenha incrível! Acabei de gravar um vídeo sobre esse livro e vou linkar sua resenha lá, incrível como você conseguiu escrever tão bem a respeito sem falar sobre o que é o tema principal, também acho que fica mais interessante para o leitor se impactar durante a leitura.
    E concordo plenamente quanto ao final! Ficou muito fantasioso pra mim, como se tudo se resolvesse com um passe de mágica e eu não gostei.
    Beijo enorme!

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    1. Ai, Tati, sua linda, que maravilha ter vc elogiando uma resenha minha. Eu adoro ver seus vídeos, amo mesmo!!! Depois vou pegar o link e colocar aqui também. Me avisa quando for para o ar.
      Eu realmente achei que não ficou tudo resolvido no final, mas eu me pergunto se isso não foi o que a escritora quis mesmo, apesar de não ter me convencido! KKKKK
      Um beijo gigante pra vc!!!

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  2. Li esse livro a poucos dias e adorei... Só que me senti como você no final... queria saber mais, exatamente por parecer bem difícil para ele, fiquei até em dúvida se seria possível (se é que vc me entende, não quero soltar um spoiler aqui!). Fiquei interessada no assunto e até pesquisei no google, mas não encontrei nada do que queria saber...

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    1. A minha dúvida foi exatamente essa, Camila!!! Pensei "e agora, como faz?" kkkkkkkkkk
      Mas ficamos só na curiosidade! Uma pena, né?
      Beijocas

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    2. Renata, vc tem um email? Tem outra coisa que me incomodou, mas não dá pra comentar aqui sem soltar spoiler... To precisando desabafar! kkk

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    3. Camila, manda para rennie.lima@gmail.com ou me add no Skoob ou no Face!
      http://www.skoob.com.br/usuario/29495

      Morri de rir com "tô precisando desabafar"!
      Beijos

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