Nossa avaliação - 8.0 |
No ano passado
tive o prazer de assistir, totalmente no escuro, o filme “Trem Noturno para
Lisboa” com Jeremy Irons e apenas depois é que descobrir que o filme é baseado
no livro homônimo de Pascal Mercier, publicado aqui pela editora Record. Por
isso, coloquei-o como meta do desafio do Skoob de janeiro, mas só agora
consegui um tempo para publicar a resenha. Então, lá vai..
A obra, um
sucesso na Europa, conta a história de Raimund Gregorius, também conhecido com
Mundus ou O Papiro, um professor de letras clássicas que após impedir uma jovem
de pular de uma ponte (não está claro se ela realmente ia pular ou não, mas ele
pressente que sim) percebe o quanto sua vida não possui um objetivo e como o
tempo passou tão rápido. Assustado, Gregorius abandona sua turma e sai pelas
ruas de Berna (Suíça) sem rumo até entrar em uma pequena livraria onde encontra
um exemplar especial, o livro de um português chamado Amadeu do Padro.
Encantado com os textos do ourives das palavras (mesmo sem saber português),
Gregorius decide partir em uma viagem para descobrir mais sobre o autor.
A vida de
Gregorius passa a ansiar por sentido ao ler as palavras do escritor e suas
reflexões sobre solidão, morte, amor, lealdade, Deus; tudo ao seu redor o
instiga a questionar o real motivo das ações e das palavras, seu verdadeiro
significado. Questionar é a sua segunda, mas talvez a sua primordial, missão:
“Quando leio jornal, escuto o rádio ou presto atenção no que as pessoas
dizem no café, sinto cada vez mais um enfado, um asco mesmo das palavras sempre
iguais que são escritas ou ditas, sempre as mesmas expressões, sempre os mesmo
floreios, as mesmas metáforas. O pior é quando escuto a minha própria voz e
constato que também digo sempre as mesmas coisas. Essas palavras estão
terrivelmente gastas e usadas, esgotadas pelos milhões de vezes de foram
usadas. Terão ainda algum significado? (...) será que elas ainda exprimem
pensamentos?”
Diante de tais
pensamentos, sua alma impulsiona Gregorius para uma busca misteriosa. Já em Lisboa,
após desbravar páginas durante a viagem noturna no trem, vai encontrando
pessoas que viveram com Prado e aos poucos vai reconstituindo a vida do
escritor: um médico dedicado e poeta que se vê divido entre o amor e a
lealdade/amizade e que, afim de se redimir de um “erro”, se junta à resistência
contra a ditadura portuguesa de Salazar. Afinal, “quando a ditadura é um fato,
a revolução é uma obrigação”.
Ao mesmo tempo
em que as portas do mundo de Padro se abrem, as janelas da alma de Gregorius
começam a captar um pouco de luz, permitindo-o ver o mundo com outros olhos.
Como simples palavras
podem recair sobre um leitor com tamanho impacto ao ponto deste largar toda uma
vida – hábitos, a comodidade do lar, a rotina – para desbravar um mundo
desconhecido? É possível perceber que após anos a vida não foi frutífera como se
imaginava? Que nada foi concretamente visto ou feito? Tem a tinta impregnada em
papel o poder para transformar uma pessoa? Dar-lhe sentido ou, ao mesmo, a
busca por um sentido da vida?
Dividido
entre os relatos de sobreviventes da ditadura, familiares e amigos de Padro,
seus textos (é bom ter em mãos um post-it para fazer marcações, é impossível
não refletir sobre alguns pontos abordados pelo portuga) e as próprias
impressões e aflições de Gregorius, o livro nos leva a redescobrirmos e
avaliarmos nossas vidas.
Três
pontos me marcaram:
- “As amizades têm seu tempo e acabam”. Nunca havia refletido sobre isso, mas infelizmente acabei constatando que é verdade.
- “(...) a palavra é a luz dos homens”. Sejam elas as palavras do Senhor ou as do dicionário. Ambas iluminam nosso mundo (pelo menos o meu).
- “A vida não é aquilo que vivemos, é aquilo que imaginamos viver”. Ainda estou refletindo sobre o assunto.
No
geral, um livro muito envolvente, bem escrito, mas ao mesmo tempo não é uma
leitura fácil, pois os textos de Padro são frequentemente transcritos em mais
de duas páginas às vezes, o que pode tornar a leitura um pouco cansativa. O final
(um pouco diferente do final do filme) é um pouco triste e até certo ponto
decepcionante, e esse talvez seja um dos poucos casos em que a adaptação para
as telinhas tenha sido mais feliz, principalmente o final. É claro que no filme
é impossível citar todos os textos de Padro, deixando um foco maior na questão
da ditadura do que na redescoberta de Gregorius.
Um
livro para ler, fazer apontamentos e refletir. Um filme para entreter.
Abaixo
trailer do filme.
Linda resenha Carla! Quero muito ver esse filme, mas ler o livro antes.
ResponderExcluirA Lua falou a mesma coisa, que o começo do livro é muito bom, mas do meio pro final não fica tão bom assim! Mas é uma história tão interessante e os pensamentos que ele suscitou em você continuam me deixando curiosa rsrs
Beijo!
Tati, que bom que vc gostou!
ExcluirComo eu gostei muito do filme, resolvi encarrar o livro, mas como eu disse não é uma leitura fácil e ele se arrasta um pouco do meio pro final, sim. Ainda sim, achei a leitura válida e muito enriquecedora. Depois de matar a sua curiosidade, me diz o que achou! :-)
Beijos
Nossa, reflexões profundas mesmo... me empresta depois???
ResponderExcluirBeijos
KKKKKK foi mal, estou logada no blog pra fazer upload do vídeo.
ExcluirBjs, Rê.
Claro. Tá aqui disponível procê.
ResponderExcluirSó digo uma coisa, eu PRECISO ler este livro!
ResponderExcluirótima resenha! parabéns, minha vontade assim, só aumenta!
beijo
Rachel, acho q vc vai amar! Acho q é a sua carinha hehehe
ExcluirDepois me diz o q achou!
Bejins
Estou procurando o livro um ourives das palavras. Você encontrou?
ResponderExcluirO nome do livro é “Trem Noturno para Lisboa”.
ExcluirAbraços.
Olá, amei sua resenha!! Estou procurando o livro, alguma dica de onde posso encontrar?
ResponderExcluirLivrarias de livros físicos em geral: Saraiva, Cultura, etc. Ou sebos!
ExcluirBjs
Quero muito ler!!! Aonde eu faco o download em pdf? Obrigado
ResponderExcluirNunca vimos o livro em ebook, creio que só físico mesmo!
ExcluirBjs