quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Abnegação e Medo em "Ratos" (Kelly Santos)


Primeiramente preciso falar da arte da capa que é muito bacana. A toca de rato na capa deu um toque final e deixou o livro melhor ainda. Mas não vamos nos precipitar, vamos ao livro!

Nossa Avaliação - 9.0
"Ratos" de Gordon Reece e publicado pela editora Intrínseca, conta uma história interessantíssima sobre o mais puro, simples e forte sentimento humano: o medo. O medo de se impor, o medo de reagir diante de uma injustiça, o medo de dizer algo improprio. Shelley e sua mãe têm algo em comum, além do parentesco, elas têm personalidades muito parecidas, na verdade, iguais. As duas são como ratos que ao menor indicio de ameaça correm e se escondem sem jamais enfrentar ou bater de frente com quem quer que seja, nem para se defender de ataques, às vezes até mesmo físico e é por esse motivo que a vida delas é muito difícil.

O pai de Shelley foi embora de casa com sua secretária, muitos anos mais nova que ele, deixando sua mãe praticamente sem nada, e ainda tentou ganhar a guarda de Shelley, mas com 15 anos ela já podia escolher e portanto escolheu ficar com sua mãe. Como punição pela escolha, o pai simplesmente passou a ignorar a existência dela, que apesar de não admitir, adorava estar com o pai e que secretamente alimentava a esperança de que ele voltasse para salva-lá, como um herói.

Ele é advogado e conheceu a mãe de Shelley quando ela começou a trabalhar para a mesma firma legal que ele, eles se apaixonaram e se casaram.  Porém, assim que Shelley nasceu, o pai exigiu que a mãe dela parasse de trabalhar para cuidar da menina, mesmo que ela estivesse prestes a se tornar sócia da firma, e como o rato que era, ela acatou a ordem e passou a ser uma dona de casa exemplar e uma mãe cuidadosa.

Já crescida, Shelley é muito estudiosa, boa filha sempre dedicada às artes e à boa literatura. Na escola passa por maus bocados com suas ex-amigas de infância e sofre um bullying pesado por meses a fio que acaba culminando em ataque brutal que resulta em internação e afastamento permanente da escola. Em meio a essa atmosfera de medo e desamparo, as duas resolvem se mudar para um lugar bem afastado da cidade para que possam ficar isoladas e não sejam perturbadas, ou seja, elas querem se esconder do mundo.

Quando tudo começa a melhorar e elas começam a ter uma vida feliz e agradável, mesmo como ratos entocados, algo terrível acontece e ameaça essa já muito frágil felicidade. Diante dessa complicação, elas não sabem como não reagir, como nunca souberam a vida toda na verdade, mas é a partir daí que as duas são obrigadas a tomar uma decisão dramática: deixar de ser ratos ou deixar de existir? Elas de fato existem?

O que me impressionou bastante foi a forma como a mãe de Shelley resolve lidar com os problemas. A reta final do livro é tão genial e tão perspicaz que me deixou com uma dúvida: como uma mulher tão inteligente e com uma capacidade de raciocínio tão ágil pôde ser capaz de aceitar todas as privações e as humilhações as quais foi submetida por tantos anos? E até Shelley, que me irritou bastante e que mesmo depois do bullyng ainda mantinha um pouco das suas atitudes de rato, começa a mudar e no fim posso até dizer que simpatizei com ela.

Pra resumir, o livro é ótimo; nunca tinha ouvido falar desse autor e fiquei encantada com a forma como ele conta uma história e de como ele a desenvolve através dos olhos de Shelley. Adorei o livro e super recomendo.

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