Três releituras e várias heroínas (Lucyclenia Santana)

O livro de contos "Heroínas", lançado pelo selo Galera da Editora Record, une grandes nomes da literatura infanto-juvenil e jovem-adulto contemporâneas. Laura Conrado, Pam Gonçalves e Ray Tavares fazem neste livro uma releitura de contos clássicos, mas, desta vez, com protagonistas mulheres, trazendo para a literatura o discurso dos novos tempos: o empoderamento feminino!

O livro tem três contos e falaremos deles abaixo:

UMA POR TODAS E TODAS POR UMA

No primeiro conto, de autoria da Laura Conrado, embarcamos nas aventuras de Daniela D’Artagnan, uma jovem adorável de 17 anos que corre atrás de seus sonhos e objetivos. Ela herdou o amor pelos animais de seus pais e, sendo filha única, sonha em seguir a mesma carreira que eles e ser veterinária.

Nossa avaliação: 100

Ao tomar conhecimento de que a ONG Mosqueteiros, que acolhe animais abandonados e oferece tratamento gratuito aos animais de famílias carentes, está em busca de voluntários, Daniela não pensa duas vezes e se apresenta para ajudar. 

Na ONG Mosqueteiros, Dani, como é chamado pelos mais íntimos, conhece Agnes, Aline e Poli, três estudantes universitárias em Medicina Veterinária.

Porém como é de conhecimento de todos, nem tudo são flores, não é mesmo meus amigos? A ONG está passando por algumas dificuldades e as meninas precisam encontrar famílias para adotar os animais.

Uma releitura de “Os Três Mosqueteiros”, este conto nos mostra o valor da amizade, o apoio da família, o quão importante é seguir nossos princípios e correr atrás dos nossos sonhos. Bem fofo, leve e recheado de ensinamentos. Acredite, juntos somos fortes.

“Tornar-se uma mulher não tem nada a ver com as convenções que escutei até aqui:  estar em um relacionamento com um homem, estar bonita e no peso ideal, estar bem vestida, ter apenas algumas amigas e várias inimigas invejosas, como se isso fosse indicador de felicidade. Ainda estou descobrindo a mulher que quero me tornar, mas me sinto confortável por saber que vou, mas não sozinha. Sempre vai ser uma por todas e todas por uma!”.

FORMANDOS DA TÁVOLA REDONDA

Este conto é de autora de Pam Gonçalves (que começou como youtuber literária e já lançou alguns livros). Tudo tem início em um dia comum, quando Marina é chamada na sala da diretora e descobre que, há poucas semanas da festa de formatura do Ensino Médio, todo o dinheiro da festa foi roubado e a diretora confia à Marina uma missão quase impossível: formar uma nova comissão de formatura que terá que levantar fundos em tempo recorde para que a festa seja realizada. .

Todos sabemos que a fase de adolescente já é complicada por si só, mas o último ano no Ensino Médio se supera: a tensão pré-vestibular, os estudos para passar em uma boa universidades, o vestibular em si e a tão angustiante espera pela resposta que dirá se você finalmente passou em alguma universidade. Como se não bastasse, ainda tem a tão esperada festa de formatura!

Sem poder negar a árdua missão que lhe foi confiada, Marina convoca duas pessoas de cada turma do terceiro ano escolar para formar uma nova comissão e acreditem se quiserem: apenas meninas se prontificaram em ajudar. Com tantas responsabilidades nas mãos e um namorado chato cheio de segundas intenções, Mariana precisa se dedicar e ser criativa para levantar os fundos!

O conto é uma releitura de “O Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda” e escrito de uma maneira bem divertida, confirmando a máxima de que "a união faz a força" e de como nós, mulheres, juntas somos mais fortes. Pam nos mostra a pressão vivenciada pelos adolescentes em diversas situações e abordas determinados assuntos como homossexualidade, amizade entre mulheres e traição, com bastante naturalidade.

“Se a gente parar de pensar um pouco no próprio umbigo, as coisas podem sim ser diferentes.”

ROBIN, A PROSCRITA

O conto de Ray Tavares é uma releitura de “Robin Hood” e é totalmente diferente dos contos acima, fechando o livro com chave de ouro. Somos apresentados à Roberta, uma garota bastante inteligente, hacker desde que se entende por gente, que vem passando por muitos momentos de altos e baixos desde o seu nascimento. Ela quer muito usar os seus conhecimentos de maneira que ajude a comunidade em que vive, tornando o mundo mais justo na medida do possível.

Abandonada ao nascer, ela perdeu a mãe de criação ainda muito jovem e seu pai foi recentemente assassinado. Ao crescer na igreja da qual sua mãe fazia parte da congregação, Roberta pediu ajuda para o tratamento de sua mãe ai pastor e vereador Marcelo Felizzi, mas teve seu pedido de ajuda negado. Depois disso, ela encontrou a oportunidade de ajudar outras pessoas seguindo o lema de Robin Hood: “roubar dos ricos para dar aos pobres”. 

"Apesar de estar sentindo como se pudesse voar, Roberta ainda era uma pessoa extremamente racional, e pessoas extremamente racionais precisam cobrir todas as possibilidades de desastre antes de agir."

Gostei bastante do livro e o desenrolar de cada história, todas muito bem construídas. Desde criança somos acostumados a acreditar que o homens são sempre os super heróis, guerreiros, os fortes que virão resgatar as mocinhas e princesas que estão em  apuros (nós, as mulheres) e este livro veio nos mostrar que também somos guerreiras, que não precisamos esperar que os homens salvem o mundo, pois também somos fortes e podemos mudar o mundo. Adorei isso.

Não sei dizer qual das mocinhas é a minha preferida, pois cada uma ocupou um lugarzinho especial em meu coração.

Com temas bastantes atuais e alguns assuntos polêmicos, os contos são ambientado em nosso pais e em um ambiente bem do dia a dia mesmo, o que gera identificação imediata. 

Um assunto comum em todos os contos foi mostrar o quanto somos fortes, independente da situação que estamos enfrentando em nossas vidas, quer seja salvando ONG's, salvando formaturas ou salvando comunidades.

Super indico a leitura.

Até a próxima.