quarta-feira, 6 de junho de 2012

Traição e Sedução sob a ótica "Rodrigueana" (Renata Lima)

Nossa Avaliação - 9,0

Um dos nomes menos falados na nossa Literatura Brasileira é Nelson Rodrigues. Nunca antes sequer citado durante a faculdade de Letras, descobri a obra de Nelson já na reta final através da professora e roteirista Elena Soarez (roteirista dos filmes "Eu, tu, eles", "Cidade dos Homens" e "Os Desafinados", entre outros) na aula de Introdução ao Roteiro.

O desafio proposto por Elena era roteirizar uma crônica de Nelson Rodrigues utilizando a linguagem tão característica desse autor de forma a não deixar que o roteiro caísse na caricatura. Escolhi Uma Senhora Honesta do livro "A Vida Como Ela É" e fiz o trabalho. Tirei nota 90, mas o mais importante desse trabalho foi descobrir uma literatura tão canastrona, tão real e ao mesmo tempo tão atual de ter vontade de mergulhar dos livros de Nelson um a um.

Logo que acabou o período, mergulhei em "A Vida Como Ela É", que é um livro com várias crônicas publicadas pelo Nelson no jornal Última Hora de 1951 a 1961. Quase todas elas têm como tema o adultério e eram frutos de "causos" que as pessoas contavam a ele ou de sua infância e adolescências nos subúrbios cariocas. Na descrição do livro, diz que eram também "meditações sobre o casamento, o amor e o desejo".

Sempre com o Rio de Janeiro dos anos 50 como cenário, Nelson Rodrigues denuncia uma sociedade hipócrita, incestuosa, fofoqueira e altamente sexual. A unidade familiar, que hoje é composta de marido, mulher e filhos, tinha na época o mistério de um triângulo amoroso que, às vezes demasiadamente obsessivo, outras vezes demasiadamente platônico, nem sempre se concretizava e algumas vezes terminava em morte (assassinato, suicídio ou ambos).

A traição, consumada ou não, é um tema recorrente neste livro e encontra em cada história um motivo diferente para se enraizar na mente das personagens. O marido omisso, a esposa fogosa, o novo vizinho sempre seminu, a secretária sensual, a menina travessa, o don juan que sempre quer se dar bem, o casal em constante crise conjugal, o homem privado de sexo são personagens do dia a dia que nunca deixam de ser atuais e facilmente identificáveis em conhecidos, vizinhos, parentes, amigos. São crônicas que, apesar de datadas nos anos 50, nunca deixarão de ser atuais.

O ponto alto desse livro - e de todos os outros de Nelson Rodrigues - é a linguagem absolutamente "rodrigueana". Concisa, engraçada, direta. O que eu ressaltaria como ponto negativo é que o livro pode, para muitos, cair na mesmice. O tema é quase sempre o mesmo, os finais são parecidos e as personagens de uma crônica acabam se confundindo com as personagens de outra. O que eu fiz foi ler aos pouco e alternando a leitura com livros bem diferentes de autores diversos. Para se ter uma ideia, enquanto lia esse livro li "Pandora" da Anne Rice, "O Iluminado" do Stephen King e "Incidente em Antares" do Érico Veríssimo.

Em 1996, a toda poderosa Rede Globo de Televisão adaptou 40 histórias (ou crônicas) de "A Vida Como Ela É" em esquetes de sete a doze minutos que passavam no final do programa Fantástico com a participação dos maiores astros e estrelas da telinha na época (alguns até hoje o são). Com direção de Daniel Filho - para mim um dos motivos de ter sido tão bem feita -, a pequena série "AVida Como Ela É" está disponível quase inteira no You Tube.

2 comentários:

  1. Adoro Nelson Rodrigues, sempre me lembra muito o Realismo na literatura (Aluisio, machado...), e gosto muito da linguagem, as girias, a forma de falar dos anos 50/60 nos textos. Ainda quero muito os livros que têm os textos completos das peças do Nelson (A falecida, O beijo no asfalto, Vestido de nova (que aliás é um texto muito muito muito louco)...) senão me engano são dois volumes e tb tem os livretos de bolso.

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  2. Quero ler muito mais coisas dele... li recentemente Asfalto Selvagem. Já li Vestido de Noiva, mas não lembro muito bem, pulei algumas partes. Preciso reler.

    :)

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