quinta-feira, 22 de março de 2012

Um pouco dos clássicos (Carla Cristina Ferreira)


Não dá para falar em literatura sem remeter aos clássicos. Assim este post vai ser dedicado a alguns dos clássicos como Robert Louis Stevenson, Bram Stoker e Edgar Allan Poe. Só pra começar.

A Ilha do Tesouro
Nossa avaliação - 7.0
Robert Louis Stevenson é conhecido por duas grandes obras: “A Ilha do Tesouro” e  “O Médico e o Monstro”. O primeiro é um clássico da literatura infanto-juvenil de 1883 que pelo nome já diz tudo: uma história sobre piratas e tesouros enterrados.  Um livro que li recentemente com leitura fácil, mas não muito empolgante. Depois de algumas pesquisas descobri que este foi o primeiro livro que retrata um pirata com perna-de-pau e um papagaio no ombro, além do tradicional mapa com um X marcando o local do tesouro. Outra curiosidade é que este livro foi publicado em forma de folhetim, onde cada capítulo era publicado por vez, o que foi imprescindível para aguçar a curiosidade do leitor da época.

O Médico e o Monstro
Nossa avaliação - 8.0
O segundo já é bem mais interessante: trata-se de um livro de suspense/terror publicado em 1886, sobre a dupla personalidade do Dr. Henry Jekyll, um médico respeitado e humanista que se transforma no horrendo Mr. Edward Hyde. Na Londres vitoriana, onde vários crimes ocorrem à noite, inclusive assassinatos brutais, encontramos o advogado Gabriel Utterson, que recebe do amigo Jekyll seu testamento beneficiando unicamente Hyde, acendendo o estopim para as desconfianças de Utterson quanto à índole de Hyde.

O clima sombrio, influenciado principalmente pela característica presença do fog londrino, privilegia o constante desaparecimento de Jekyll e acentua a obscuridade e deformidade de Hyde como uma figura hedionda, capaz de tudo para conseguir o que deseja:  à coerção de Jekyll através de sequestro ou chantagem até mesmo ao assassinato. Sem esquecer a utilização da poção como uma justificativa para liberar o “lado negro” que todo ser humano possui. Não foi a toa que Stevenson fez tanto sucesso com esta obra, rendendo várias adaptações para o cinema e até inspiração para os quadrinhos, vide o poderoso homenzarrão verde, Hulk. 

Só comentei aqui sobre "A Ilha do Tesouro" para ilustrar como Stevenson era versátil a ponto de escrever duas obras completamente diferentes: a primeira é super light e voltada para crianças enquanto que a segunda é dark, voltada para aqueles que gostam de sentir um frio na espinha e têm o estômago forte. Por favor, levem em consideração a época em que as obras foram escritas, pois nos dias de hoje Stephen King causa arrepios muito maiores.

Drácula
Nossa avaliação - 7.0
Já o famoso Bram Stoker escreveu “Drácula” em 1897, criando o famoso mito do vampiro moderno (por favor, esqueçam Crepúsculo). Falo aqui em um ser humano que renegou seu amor à Cristo e como punição foi castigado a viver eternamente com sua bestialidade e sua sede de sangue. “Drácula” foi um grande sucesso do gênero de ficção de terror e gótica escrito em forma de diários e cartas sob o ponto de vista de personagens variados. É aqui que surge o famoso Conde Drácula que vive na Transilvânia e que é capaz de se transformar em morcego e outras bestas, assim como surge o seu arqui-inimigo, o caçador de vampiros Dr. Abraham Van Helsing.

Não é uma leitura fácil. O livro é bastante denso e em vários momentos tive vontade de desistir, mas como sou fã de vampiros, precisava contemplar esta obra-prima. O que mais me desanimou foi a forma escolhida para contar a história, pois não sou muito adepta dos livros em forma de cartas.

Conhecido como "o romance de gelar o sangue" por fãs vitorianos, “Drácula” foi adaptado inúmeras vezes para o cinema, a melhor de todas é sem dúvida Drácula de Bram Stoker (1992), com Gary Oldman no papel do Conde, Anthony Hopkins como Van Helsing, Winona Ryder como Mina e Keanus Reeves como John Harker.


No continente americano, o mestre do horror é Edgar Allan Poe que praticamente inventou a literatura gótica, envolta em mistério, terror e morte. Seus contos e poemas são mundialmente conhecidos; entre eles “Os Assassinatos na Rua Morgue” (ou Crimes da Rua Morgue) e “O Corvo”. 


O primeiro foi publicado em 1841 e conta a história do assassinato brutal de duas mulheres, cometido na Rua Morgue, em Paris e do envolvimento do “detetive” Dupin (que nos faz lembrar o famoso Sherlock Homes) que com seus métodos analíticos consegue desvendar esse mistério. A descrição que Poe faz dos corpos e das condições em que foram encontrados é bizarra para a época e mais supreendente ainda é a solução desse caso inexplicável. A leitura incialmente se arrasta com a explicação da metodologia de Dupin, mas com o surgimento do crime a história vai ficando mais interessante.

Assassinatos na Rua Morgue
Nossa avaliação - 7.0
O segundo, o poema “O Corvo” foi publicado em 1845 e trata basicamente de um homem desolado que chora pela morte de sua amada até que recebe a visita do corvo. Seduzido pela beleza da ave e por sua melancolia, tendo apenas a ave como companhia em sua dor, começa a percebê-la como manisfestação do diabo que quer atormentá-lo, tirando-lhe a esperança de reencontrar sua amanda entre anjos no céu. Indagando-a, a ave infernal responde “nunca mais”.  E esta é a frase que dá ritmo a este “diálogo” e que continua sendo a mesma resposta para suas indagações até o seu desfecho, que transcrevo abaixo:

 (...)

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
      Disse o Corvo, "Nunca mais".

E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda,
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais.
E a minh'alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
      Libertar-se-á... nunca mais!

                                                                       Fernando Pessoa (1912)


Particularmente não sou fã de poemas e confesso que sinto uma tremenda dificuldade para interpretá-los, mas achei que valia a pena mencionar este em especial, principalmente porque está para estrelar nos cinemas brasileiros no dia 27 de abril o filme “O Corvo”: um assassino que se inspira nos poemas de Poe para cometer suas atrocidades, força o autor, vivido por John Cusack, a ajudar a polícia a desvendar sua identidade antes que suas histórias se tornem realidade.

É isso aí gente! Boa leitura!


8 comentários:

  1. Não li nada do Stevenson, mas do Poe já li quase tudo. Os contos são de arrepiar, com destaque para "O Poço e o Pêndulo", "O Barril de Amontilado" e "O Gato Preto". O suspense que ele cria deixa os cabelos da nuca em pé. ADORO.

    "Drácula" é mais que um clássico, né? Já virou ícone! Confesso que demorei um pouco pra ler também por conta da densidade dos diários e cartas de Mina, mas o livro é muito interessante. Um dos poucos que não tenho nem coragem de trocar/dar/vender.

    Adorei o post, Carlinha.

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  2. Eu li este livro do Drácula e o filme é mais bem estruturado, apesar de não ter os detalhes contidos nas cartas.Sem dúvida, a escolha dos atores abrilhantou os personagens do livro. Gostei da resenha!

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  3. Ah eu AMO Drácula nem achei tão difícil de ler assim, acho que vi odas as versões do cinema, mas a do Copolla é a melhor e Gary Oldman é o Drácula da minha cabeça(assim como Tom Cruise é o Lestat), e acho que o mais bacana é que o filme romantiza o romance pegando os fatos reais (vide Vlad Tepes da Romênia) que inspiraram Stoker, o Drácula do filme mata por uma saudade, um amor assassinado pelos homens (toca "Long song for a vampire" da Anne Lenox - linda), o vampiro do livro mata porque é ruim mesmo...

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    1. Eu esqueci de dizer que li duas traduções de "Drácula" para um trabalho de cotejo com o original em inglês para a faculdade. Se alguém for ler o livro, dê preferência à tradução da L&PM (já me disseram que a da Ediouro, da Martin Claret e a da Saraiva também são boas) e corram da tradução da Madras. Além de problemas estruturais de língua portuguesa, há muitos erros que passaram batidos pela revisão.

      Mas do livro em si, achei a narrativa muito lenda, muito detalhada, (é claro, é um livro que começou a ser escrito em 1890 e publicado em 1897), mas, contrapondo a essa lentidão, o final se desenrola em 10 páginas ou menos. Me deixou meio órfã... meio "Hã? Acabou?"

      E pra mim o terror está só no começo, quando Jonathan está preso no castelo, e no final porque o meio é um suspense psico-dramático.

      E pra falar do filme, é verdade, Arthur, no livro, Bram Stoker não diz exatamente quem é Drácula, a não ser através do Van Helsing e dos locais. Ele é mau e perverso, mas não existe motivo. E no cinema eles deram um "passado" ao Drácula adicionando um agravante: Drácula renegou a Igreja e a Deus por amor, ou pela falta dele, depois que sua amada se suicida. A gente fica com pena dele, né? E até torce um pouquinho pra ele ficar com a Mina porque afinal de contas "O verdadeiro amor nunca morre" como diz o cartaz do filme.

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  4. Ótimo post! Adoro quando me deparo com clássicos. Não sabia que o Robert Louis Stevenson foi o criador do pirata com perna de pau e papagaio no ombro.
    E Drácula é um dos meus livros favoritos, assim como Gary Oldman é a personificação eterna do vampiro.
    Bjo!

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    1. Gary Oldman é um Drácula mais romântico do que o do livro, Michelle, mas é realmente um ótimo vampiro.

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  5. Caramba!!! Vocês são feras dos livros. Adoro os posts de vocês, meninas.
    Já falei que por conta disso comprei até o livro "Não conte a ninguém" para ler.
    Bjnhs e sucesso sempre

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    1. Comprou, Aline??? Que legal! Espero que você goste!!! Quando acabar, comenta lá!
      Nos itens de venda aqui do blog, vou colocar "Alta Tensão" e "Quando Ela se Foi" assim que eu acabar de ler.
      Beijos e muito obrigada pelo carinho!!!

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