sexta-feira, 9 de março de 2012

Duas visões sobre "Sangue Quente" (Renata e Carla)

Porque gostei de Sangue Quente (Renata Lima)


Nossa avaliação -  7.0
De uns tempos para cá tornou-se febre a desconstrução de mitos. Vampiros nem sempre são maus, anjos nem sempre são bons, lobisomens nem sempre se transformam na lua cheia, sereias nem sempre tem rabos de peixe, há vampiros que brilham no escuro e agora os zumbis não estão exatamente mortos. Como diria meu querido Chapolin, “suspeitei desde o princípio”. Se eles sentem fome, morrem com um tiro na cabeça, porque não pode haver alguma conexão neural ali ainda? Héin?
R. é um zumbi mais consciente e crítico do que muita gente viva – ou que se acha viva – por aí. Daí a organização de uma sociedade de zumbis com seus poderosos chefões, suas estranhas famílias, seus esquecimentos e as memórias, que nem sempre são deles, mas muitas vezes do portador do cérebro que os alimenta, e suas estratégias de ataque. Para mim, isso foi bastante verossímil - mais até do que o vampiro que brilha no sol.
A narrativa é comovente e a paixão que R. sente por Julie, juntamente com as memórias do namorado morto dela e que teve o cérebro devorado aos poucos por ele, pintam uma tela de dor e desamparo. Enquanto o namorado de Julie (Perry) vai aos poucos perdendo a humanidade através das visões de seu passado, R. reconquista a sua pouco a pouco através dos sonhos, do amor que desenvolve por Julie e da amizade com M.
O livro é bem escrito e no começo é até divertido em algumas partes.  Me fez lembrar algo entre A Bela e a Fera, O Fantasma da Ópera, Romeu e Julieta... um amor impossível, que tem tudo para dar errado, mas que por insistência do zumbi vai se desenvolvendo e crescendo até contaminar a própria Julie. E os diálogos entre R. e M. são muito divertidos. Em poucas palavras eles conseguem transmitir ironia, sarcasmo, dor e esperança.
O que fica pra mim do livro é uma reflexão do que realmente somos enquanto seres-humanos. E afinal de contas o que é “ser humano”? Para onde estamos indo? Como pegar o retorno e evitar a autodestruição? E acho que é uma reflexão – traçando um paralelo com uma série de TV que também fala sobre zumbis, mas do ponto de vista dos humanos sobreviventes – de quem é mais humano: o zumbi que está matando seres-humanos para sobreviver ou os seres-humanos que estão matando outros seres-humanos que discordam de suas atitudes ou que tentam roubar seus alimentos, sua casa e supostamente atacar suas famílias? Quem vê The Walking Dead* entende do que eu estou falando. Outra série que discute a ideia de humanidade também é Being Human**, sobre um vampiro, um fantasma e um lobisomem que dividem o mesmo teto. Outra que vale a pena – a versão britânica, em minha opinião.
[SPOILER] Se você ainda não leu o livro e não gostaria de saber o final, não leia esse parágrafo. O final deixa a desejar por dois motivos. O primeiro é porque é previsível. Nos últimos 25% do livro, a gente já percebe que R. está mais humano e falando mais. O segundo é porque não há qualquer explicação quanto às condições dos zumbis. Todos voltarão a ser humanos? Por que só o grupo de R. mudou? Claro, eu entendi que os outros estavam sendo bem manipulados pelos Ossudos e fariam o que eles mandassem, mas por que aquele grupo especificamente? [FIM DO SPOILER]
A nota que dou para o livro é nota 3. É bom, fácil de ler, mas não me convence um motivo plausível para o desfecho. 
 * The Walking Dead é exibida pela Fox às 4as feiras às 22h com apenas dois dias de diferença em relação à exibição nos EUA e está na 2a temporada.
** Being Human é exibida pela GlobosatHD e pelo Multishow (Ser Humano) em horários variados. Já está na 4ª temporada no Brasil e indo para a 5ª temporada no Reino Unido.




Não é que eu não tenha gostado... (Carla Cristina Ferreira)

Caramba, lá vou eu me meter em uma arapuca...
Eu não posso dizer que não gostei de Sangue Quente. Achei a premissa interessante, mesmo em se tratando de um tema que não chame muito a minha atenção. Nunca fui fã de filmes de zumbis e confesso que nunca havia me deparado com um livro sobre esse tema, principalmente quando a estória é tratada pela perspectiva de um; algo totalmente incomum e é aí que eu concordo com a Rê: a desconstrução de mitos virou uma febre e algumas dessas desconstruções são até interessantes como o caso do próprio R.
É curioso descobrir que um zumbi pode ter uma consciência que vai se desenvolvendo a medida que incorpora os pensamentos de um cérebro devorado e que esse desenvolvimento aumenta conforme a relação com Julie vai se aprofundando. Até aí tudo bem, mas toda a construção de uma sociedade zumbi não entra na minha cabeça; talvez por eu ter o “estereótipo”  de que zumbis só andam aleatoriamente sem um propósito e não vivem em sociedade, o que é um característica básica dos vivos. Então, soa estranho uma cerimônia de casamento, uma tentativa de ato sexual e uma ida à escola dos filhos. Filhos, sim, imagine só! E onde já se viu zumbi urinar e ficar bêbado?
[SPOILER] O que mais me decepcionou mesmo foi o final. Tudo bem que não fica claro o que criou os zumbis; um vírus, talvez? Mas não dá para uma coisa que está morta voltar a vida sem explicação, do nada. Uma maldição foi quebrada ou o antídoto estava na simples troca de fluidos corporais? [FIM DO SPOILER]

O livro é bonzinho. Deixou no ar a questão se vale a pena sobreviver se você realmente não vive a vida, não a aproveita, se deixando  levar simplesmente pela ordem e pelas regras que guiam uma sociedade.
No geral, passável, mas confesso que estou curiosa pra ver no que vai dar o filme. 

Já estão reclamando da semelhança entre os cartazes abaixo (o possível cartaz de Sangue Quente e um dos cartazes de Crepúsculo).

A estréia do filme, que seria em Agosto de 2012, foi adiada para início de 2013.




4 comentários:

  1. Capa bem legal,me chamou atenção mas não o suficiente...

    Eu só li um livro de zumbi e abandonei antes da página 10,mas nao sou preconceituosa e quem sabe dou uma chance a ele.

    Adorei seu blog!!!

    Resenha muito bem feita...

    bjsss

    Bianca

    www.apaixonadasporlivros.com.br

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  2. Valeu, Bianca. Adoro seu blog/site... qual foi o livro que você leu de zumbi? O legal desse é realmente a abordagem diferente. Tanto eu quando a Carlinha gostamos do livro e Carlinha também não é fã de zumbis.
    Bjs

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  3. Oi Renata, adorei seu blog.
    E a resenha de vocês ficaram ótimas.
    Nunca li nenhum livro sobre zumbis, e tbm nunca assisti nenhum seriado sobre o tema, já que não me interesso pelo mesmo.
    Meu filho adora The Walking Dead, não perde nenhum episódio. Eu adoro a série Being Human, tenho todos os epis gravados. Quanto ao livro fiquei curiosa depois de ler a resenha, mas ainda assim não sei se terei a coragem de ler...
    Bjus lindas e muito sucesso!
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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    Respostas
    1. Lia,
      Como eu disse na resenha, eu acho que vale a pena. Eu tenho ele em pdf. Se quiser, te envio.
      E eu adoro The Walking Dead, mas é a velha visão dos zumbis, é mais um drama humano do que uma história de zumbis.
      Adoro Being Human! Já viu a 4a temporada?

      Já estou seguindo seu site fofo!

      Bjs

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